As Teorias do Texto : uma síntese
Por Alexandre de Oliveira, Camila Uemura, Francisco de Almeida e Nataline Cesar
1. O nascimento de uma Linguística
do Texto: da frase ao texto - as três fases de construção da
Linguística Textual
É
de suma importância pensar a estrutura do texto como uma unidade de
análise linguística. Por mais que pareça óbvio entender o texto
como unidade de análise linguística e por mais que se faça
evidente a necessidade de estudá-lo em sua estrutura e construção,
desvendando o seu processamento, organização, modalidades e
gêneros, é bom lembramos de que isso nem sempre foi um consenso e
que tais ideias nem sempre foram aceitas.
Sendo
assim, o campo científico denominado Linguística Textual nasce de
um intenso e extenso esforço teórico que defende que toda a
Linguística é necessariamente Linguística de Texto. Tal visão e
método científicos confrontam-se e opõem-se fortemente ao campo
teórico da Linguística Estrutural, movimento pioneiro e demarcador
dos estudos linguísticos no parâmetro científico, que teve seu
período de ascensão e reconhecimento do final do século XIX até a
metade do XX, aproximadamente, e que traz como fundamentos balizares
as ideias postuladas pelo linguista suíço Ferdinand Saussure.
A
saber, em função de seu crescente avanço, desenvolvimento e
sucesso, a Linguística Estrutural acabou chamando a atenção de
outros olhares teóricos também relacionados à linguagem para além
do formalismo estruturalista (história, antropologia, sociologia,
etnometodologia, psicologia etc) e cresceu ainda mais a necessidade
de ampliar seus domínios, bem como o interesse em sanar possíveis
lacunas e insuficiências dessa ciência piloto, afinal uma ciência
nunca está fechada, pronta e acabada!
Nesse sentido, a partir da década de
60, surgem lugares de ruptura na fronteira com o Estruturalismo
linguístico e dissidências se fazem, constituindo (a partir de
vários aspectos teóricos lacônicos, insuficientes, pouco
explorados, marginalizados etc) novos campos teóricos da
linguística, na maioria deles em franca ruptura com algumas das
ideias do estruturalismo linguístico, por exemplo:
¨a sociolinguística
¨a etnolinguística
¨a psicolinguística
¨a neurolinguística
¨a pragmática
¨a análise da conversação
¨a
análise do discurso
¨a
semântica
¨a gramática
gerativo-transformacional
¨e
especialmente aqui a Linguística Textual, entre outros campos, é
claro
Alguns
dos aspectos mais importantes que foram criticados na tradição
estruturalista e que serviram ponto de partida para a instauração
da Linguística textual, no sentido de serem obstáculos a serem
superados foram:
•
a delimitação da frase (e não do
texto) como unidade máxima de análise
• a desimportância relegada ao
texto e sua organização global
• a desconsideração da Fala (do
texto falado) e seus aspectos funcionais e organizacionais
• e por fim a total desconsideração
do sujeito (falante) e da situação comunicativa na análise
linguística.
É
importante salientar mais uma vez que tais aspectos problemáticos,
caracterizadores das lacunas da tradição linguístico-estrutural,
levaram esse “lugar de ruptura teórica”, os estudos do texto, a
empenhar-se:
•
em ir além dos limites da frase;
•
em reintegrar o sujeito e a situação
sócio-comunicativa ao escopo de investigação teórica; e
•
em desenvolver e ampliar o estudo do
texto em suas modalidades oral e escrita, a partir de sua organização
estrutural, processamento cognitivo e funcionamento
sócio-interacional, instaurando assim a Linguística Textual
(doravante LT).
É
importante perceber que não houve precisamente uma sucessão
cronológica na transposição de uma fase à outra. O que melhor
caracteriza a mudança de uma fase para a outra é muito mais a
ampliação e aprofundamento gradual dos estudos da LT, marcando cada
vez mais fortemente o seu afastamento em relação à Linguística
Estrutural. Cada nova fase busca superar os limites e insuficiências
da fase anterior. Conforme descrevem Bentes, 2007; Indursky, 2006;
Marcuschi, 1983 e Koch, 2009; 2007; 2006, (entre outros autores
clássicos desse campo científico), estas três fases da LT costumam
ser conhecidas como:
¨1a.
Fase Transfrástica.
¨2a.
Fase da Gramática Textual.
¨3a.
Fase da Teoria do Texto.
É
bom lembrar que apesar de não se poder levar em conta datas precisas
quanto ao início e fim de cada uma das fases, é possível
contextualizar aproximadamente (e superficialmente) a Fase
Transfrástica na década de 1960, a Fase da Gramática Textual na
década de 1970 e a Fase da Teoria do Texto a partir da década de
1980 até os dias de hoje.
I.
Fase Transfrástica – a própria designação já aponta o
principal interesse dessa fase, a análise transfrástica que vai
além dos limites da frase. Esta fase volta-se para os fenômenos
linguísticos que nunca foram bem explicados pelas teorias
formalistas limitadas ao nível da frase. Considerar
“o conhecimento intuitivo do falante
acerca das relações a serem estabelecidas entre sentenças e o fato
de nem todo texto apresentar o fenômeno da co-referenciação...
[constituíram] fortes motivos para a construção de uma outra linha
de pesquisa, que não considerasse o texto apenas uma simples soma...
de frases.” (BENTES, op.cit., p.249).
II.
Fase da Gramática Textual – essa fase apoiou-se no objetivo de
criar gramáticas textuais. Mesmo considerando-se já um bom
desenvolvimento nas investigações da LT, acreditava-se ser o texto
um sistema uniforme, estável e abstrato e, nesse ponto, ainda se
aproximavam um pouco da forma como o estruturalismo descrevia a
língua (sistema uniforme, estável e abstrato). As gramáticas
textuais refletiam acerca de fenômenos linguísticos não
explicáveis por uma gramática da frase.
O
texto é tomado como a maior unidade linguística de análise que
pode ser decomposto (e recomposto) em unidades menores classificáveis
numa gramática do texto, buscando assim descrever que papel cada
elemento desempenha textualmente. Assim, como o Gerativismo considera
a competência linguística do Falante Ideal que detém o
conhecimento internalizado de todas as regras da língua (mesmo que
não seja levado a usá-las socialmente, ou seja, ele tem a
competência, mas não necessariamente o desempenho).
Nesse
sentido, o falante possuiria três capacidades textuais básicas,
conforme aponta Charolles (1989 apud BENTES, op.cit., p.250):
¨1a.
a capacidade formativa (produzir e compreender)
¨2a.
a capacidade transformativa (reformular, parafrasear e resumir)
¨3a.
a capacidade qualificativa (reconhecer e tipificar: narração,
descrição, argumentação)
III.
Fase da Teoria do Texto – conforme sintetizam Bentes 2007 e
Indursky 2006, diferentemente das gramáticas textuais que
tencionavam a competência textual de falantes/ouvintes ideais, nessa
fase, busca-se
“investigar
a constituição, o funcionamento, a produção e a compreensão dos
textos em uso[1]... [adquirindo] particular importância ... [o] seu
contexto pragmático [ou seja,] o conjunto de condições externas da
produção, recepção e interpretação dos textos.” (BENTES,
op.cit., p.251).
A
língua passa a ser entendida não mais como um sistema abstrato
(virtual), mas atual, em funcionamento, em uso efetivo. Nessa medida,
o texto deixa de ser visto como um produto formal pronto e acabado
(ideal) e passa a ser entendido como um processo (real) em
funcionamento.
Assim
como a LT evoluiu ao longo de suas três fases, o conceito de Texto
também evoluiu.
I.
Em um primeiro momento (Fase Transfrástica), o texto é concebido
como:
•
“uma sequência pronominal
ininterrupta” (dada a ênfase na questão da co-referenciação)
•
“uma sequência coerente de
enunciados”
•
“forma de organização do material
linguístico”
•
“unidade linguística superior à
frase”
II.
Em um segundo momento (Fase da Gramática Textual), o texto é
concebido como:
•
“complexo de proposições
sintático-semânticas” (apresenta um conjunto de conteúdos)
•
“estrutura pronta e acabada” que
obedece a uma estrutura formal articulada estritamente a partir de
sete fatores de textualidade:
-
Coesão;
-
Coerência;
-
Aceitabilidade;
-
Informatividade;
-
Situacionalidade;
-
Intertextualidade; e
-
Intencionalidade.
•
“produto de uma competência
linguística idealizada” (ênfase no aspecto formal do texto –
extensão e constituintes)
•
“maior unidade linguística com
sequência coerente e consistente de signos linguísticos.”
Por
outro lado, um texto pode fazer todo sentido para um falante e para
outro pode não fazer nenhum sentido. Ou seja, um texto pode fazer
sentido para uns e para outros não! Considere-se ainda que, no texto
em questão, o autor não prioriza as informações do texto em si,
cujas referências estão ausentes, mas especialmente o tom de humor
em referir-se sarcasticamente a certas características apontadas
como do universo feminino.
Para
esta terceira fase, o texto não pode ser entendido como uma
estrutura pronta e acabada, um produto, mas como um processo com
atividades globais de comunicação – planejamento, verbalização,
e construção.
Resumindo:
1a
FASE – Transfrástica
O
texto é concebido como:
È uma sequência pronominal
ininterrupta – ênfase no fenômeno de correferenciação;
È uma sequência coerente de
enunciados – encadeamento lógico, através da conectividade;
È uma forma de organização do
material linguístico – sequenciamento lógico com início, meio e
fim;
È unidade linguística superior à
frase – unidade de análise mais complexa e completa.
2a
FASE – Gramáticas Textuais
Considera
a separação entre Texto X Não-Texto. O texto é concebido como:
È u m complexo de proposições
sintático-semânticas - apresenta um conjunto de conteúdos que se
organizam na superfície textual em função da coerência e da
coesão;
È uma estrutura pronta e acabada –
equivalente a um modelo formal e ideal definido à priori;
È produto de uma competência
linguística idealizada do ponto de vista de um falante ideal e de um
modelo de texto ideal - ênfase no aspecto formal do texto em sua
extensão e seus constituintes;
È a maior unidade linguística com
sequenciamento de signos linguísticos coeso (microestrutura),
coerente (macroestrutura) e consistente.
3a
FASE – Teoria do Texto
Desconsidera
a separação Texto X Não-Texto. O texto não pode ser entendido
como um produto, uma estrutura pronta e acabada e passa a ser
concebido como:
. uma atividade verbal, consciente e
interacional entre falante/ouvinte – leitor/leitor;
.
um conjunto de operações lingüísticas e cognitivas reguladoras e
controladoras da produção, construção, funcionamento e recepção,
seja de natureza escrita ou oral;
. um processo com atividades globais
de comunicação – planejamento, verbalização e construção. Sua
organização envolve a coesão ao nível dos constituintes
lingüísticos, a coerência ao nível semântico e cognitivo e o
sistema de pressuposições e implicações ao nível pragmático da
produção, no plano das ações e intenções dos falantes.
2.
Construindo sentidos no texto: organização estrutural e
processamento textual
Uma
vez reconstruído o panorama teórico da constituição da LT de seu
nascimento, desenvolvimento até à caracterização de seu objeto de
estudo (o texto) no perfil atual e vigente deste campo de
investigação, agora serão apresentadas algumas das principais
categorias teóricas de análise relacionadas à organização
estrutural, às estratégias de processamento e funcionamento e ao
contexto interacional. Essa descrição será topicalizada da
seguinte maneira: I. Processamento textual e II. Organização
estrutural:
I. Processamento textual – o texto
deve sempre ser entendido como um processo. O processamento textual
acontece através de sistemas de conhecimento acionados no texto e no
contexto de produção (KOCH, op.cit). Na produção textual, toda
ação (fazer) é necessariamente acompanhada de processos de ordem
cognitiva, de maneira que o sujeito dispõe de modelos e tipos de
operações mentais. Os interlocutores, na comunicação, dispõem de
saberes acumulados sobre os diversos tipos de atividades da vida
social, eles têm conhecimentos na memória que precisam ser ativados
para que a atividade seja efetivada com sucesso. Tais atividades
geram expectativas e isso compõe um projeto nas atividades de
compreensão e produção do texto.
Três grandes sistemas de
conhecimento, responsáveis pelo processamento textual:
1)
Conhecimento linguístico: diz respeito ao conhecimento do léxico e
da gramática, responsável pela escolha dos termos e pela
organização do material linguístico na superfície textual,
inclusive dos elementos coesivos.
2)
Conhecimento enciclopédico ou de mundo: corresponde às informações
armazenadas na memória de cada sujeito. O conhecimento do mundo
abrange o conhecimento declarativo, manifestado por enunciações
acerca dos fatos do mundo (“A Ponta do Seixas, na Paraíba, é o
extremo leste do continente americano”; “São Paulo é a cidade
mais populosa do Brasil”) e o conhecimento episódico e intuitivo,
adquirido por via da experiência (“Não dá para fritar o ovo sem
quebrar a casa”).
3)
Conhecimento interacional: compreende dimensão interpessoal da
linguagem, ou seja, com a realização de certas ações por meio da
linguagem. Divide-se em:
a) conhecimento ilocucional: (meios
diretos e indiretos para atingir um objetivo);
b)
conhecimento comunicacional: (meios adequados para atingir os
objetivos desejados);
c)
conhecimento metacomunicativo: (meios de prevenir e evitar distúrbios
na comunicação - atenuação, paráfrases, parênteses de
esclarecimento etc.);
d)
conhecimento superestrutural: (modelos textuais globais que permitem
aos usuários reconhecer um texto como pertencente a determinado
gênero ou certos esquemas cognitivos).
Tais
formas de conhecimento são estruturadas em modelos cognitivos. Nessa
medida, os conceitos são organizados em blocos, formando uma rede de
relações, de forma que um dado conceito sempre aciona uma série de
entidades. É o caso da eleição, à qual se associam: políticos,
eleitores, corrupção, CPI, leis, senado, dinheiro e hoje em dia até
cuecas! É por causa dessa estruturação que o conhecimento
enciclopédico transforma-se em conhecimento procedimental e fornece
instruções para agir em situações particulares e agir em
situações específicas.
II.
Organização estrutural – de modo geral, alguns autores, como por
exemplo, Dijk (2000), Koch (1997a), Fávero (1995) e Kleiman (2004),
orientam uma organização textual a partir de três níveis
estruturais, inter-relacionáveis entre si: Superestrutural,
Macroestrutural e Microestrutural.
#
SUPERESTRUTURAL – ou de nível global, com ênfase nas relações
esquemático-cognitivas.
#
MACROESTRUTURAL – ou de nível semântico, com ênfase nas relações
de coerência textual.
#
MICROESTRUTURAL – ou de nível de superfície lingüística, com
ênfase nas relações de coesão textual.
Quanto
ao nível SUPERESTRUTURAL, este se refere tanto às estruturas
textuais globais que permitem o reconhecimento dos gêneros ou tipos
(ver exemplos abaixo), como também envolve o conhecimento sobre
estratégias esquemáticas cognitivas relacionadas à significação
global da base textual. São estratégias facilitadoras na
produção/recepção de textos que acionam na memória o
conhecimento armazenado, através de modelos globais como, esquemas,
frames scripts e planos.
MODELOS
GLOBAIS
#
Frames
Certo
conjunto convencional de elementos armazenados na memória sem uma
organização seqüencial que acionamos cognitivamente numa situação
de uso. Por exemplo, ao se mencionar o frame “festa de
aniversário”, acionamos o conjunto “balões, brigadeiros, bolo,
vela, crianças, salgados, presente etc” sem uma necessária ordem
desses elementos. Outros exemplos de frames: natal, carnaval,
correios etc
#
Esquemas
Certo
conjunto convencional de elementos armazenados na memória e
organizados seqüencialmente que acionamos cognitivamente numa
situação de uso. Por exemplo, ao se mencionar o esquema “um dia
de trabalho”, acionamos o conjunto numa determinada ordem “acordar,
levantar, fazer xixi, tomar banho, vestir-se, tomar café, sair de
casa, chegar ao trabalho, trabalhar até meio dia, sair para o
almoço... etc”.
#
Planos
Modelos
de comportamento manifestados pelas pessoas no sentido de alcançarem
um certo propósito e que são acionados numa situação de uso. Ao
deparar-se com uma situação típica produzida pelo falante, o
ouvinte já interpreta suas intenções. Por exemplo, um adolescente
que organiza um plano para conseguir dos pais permissão para viajar
sozinho.
#
Scripts
São
planos mais estabilizados ou estereotipados com rotina bem
estabelecida e que geralmente especificam papéis e ações dos
interlocutores. Por exemplo, carta de amor, infância, novela etc.
Quanto
ao nível MACROESTRUTURAL, este se refere às relações de coerência
textual, responsáveis por construir a significação global no texto
através dos processos de produção e compreensão textual,
analisados numa leitura top-down (no eixo vertical). A coerência
textual é considerada fundamental para a textualidade, pois dela
depende em grande parte o sentido do texto. A construção da
coerência textual depende da organização tentacular de fatores de
diversas ordens: linguísticos, cognitivos, socioculturais,
interacionais e pragmáticos. Autores como Costa Val (2006) e Platão
e Fiorin (1996), apresentam a coerência como responsável pela
diferença entre um texto e um aglomerado de frases. É pela
coerência que as idéias são conectadas, harmonizadas, não
contraditórias, propiciando a compreensão semântica global. Platão
e Fiorin (1996, p. 397-400), apresentam diferentes níveis de
coerência:
# Coerência narrativa é a que ocorre
quando se respeitam as implicações lógicas existentes entre as
partes da narrativa. (...)
#
A coerência argumentativa diz respeito às relações de implicação
ou de adequação que se estabelecem entre certos pressupostos ou
afirmações explícitas colocadas no texto e as conclusões que se
tira deles, as consequências que se fazem deles decorrer. (...)
#
Coerência figurativa diz respeito à combinatória de figuras para
manifestar um dado tema ou à compatibilidade de figuras entre si.
(...)
#
Coerência temporal é aquela que respeita as leis da sucessividade
dos eventos ou apresenta uma compatibilidade entre os enunciados do
texto, do ponto de vista da localização no tempo. (...)
#
Coerência espacial diz respeito à compatibilidade entre os
enunciados do ponto de vista da localização espacial. (...)
#
Coerência no nível de linguagem usado e a compatibilidade, do ponto
de vista da variante linguística escolhida, no nível do léxico e
das estruturas sintéticas utilizados no texto. (...)
Importantes
critérios de textualidade, entre os quais os mais importantes são:
-no
Princípio de interpretabilidade – depende da co-participação
entre produtor e receptor na situação de comunicação e da
intenção comunicativa. Não há textos incoerentes em si, eles são
coerentes dentro de um contexto interacional e o que pode ser
incoerente para um pode fazer todo sentido para outro.
-
è Situação comunicativa – interfere na produção/recepção do
texto e pode ser entendida em sentido estrito (contexto imediato) e
em sentido amplo (contexto sócio-político-cutural).
-
è Conhecimento de mundo e conhecimento partilhado – conhecimento
de mundo é toda memória de vida (social, histórica e individual)
armazenada mentalmente e o conhecimento partilhado é a intersecção
de conhecimentos comuns compartilhados por produtor e receptor na
interação comunicativa.
-
è Polifonia – (várias vozes) diz respeito ao jogo de vozes e
pontos de vista presentes no texto. Muitas vezes a mudança de vozes
nem sempre aparece nitidamente marcada no texto.
-
è Inferência – relaciona-se às estratégias cognitivas que, com
base no conhecimento de mundo, organizam e acionam os modelos globais
de estruturas textuais: frames, esquemas, planos, scripts.
-
è Intertextualidade – é um fator importante para o processamento
cognitivo do texto, na medida em que recorre ao conhecimento de
outros textos. Todo texto traz em si, em níveis variáveis, um grau
de intertextualidade, seja ela explícita (quando há indicação da
fonte) ou implícita (quando não há indicação da fonte).
-
è Intencionalidade – esse critério tem uma forte relação com a
argumentatividade e refere-se à forma como os sujeitos usam textos a
fim de perseguir e realizar suas intenções, de modo que seus textos
produzam-se adequados à obtenção dos efeitos desejados. - è
Informatividade – é o grau de previsibilidade informacional
presente no texto que também está condicionado à intencionalidade
e é regulado pelo contexto situacional mais amplo. O grau de
informatividade vem imediatamente da relação “dado-novo”
referente às informações do texto. Um texto pode trazer um nível
de informações novas alto, intermediário ou baixo. É importante
salientar que esse critério também depende da interação
emissor/receptor: o texto “a terra é redonda” pode ter nível
zero de informação para um e ter nível alto de informação para
outro (uma criança, por exemplo).
Quanto
ao nível MICROESTRUTURAL, este se refere às relações coesivas
lineares que dizem respeito ao modo como os elementos presentes na
superfície textual (no eixo horizontal) estão interconectados
através de recursos linguísticos, constituindo seqüências
veiculadoras de sentido. Diferentemente da coerência, a coesão diz
respeito à estrutura formal do texto. Trata da manifestação
linguística da coerência e apresenta-se na forma como conceitos e
relações subjacentes são expressos no texto. A coesão é
construída através de mecanismos gramaticais (pronomes anafóricos,
catafóricos, artigos, elipse, concordância, correlação entre os
tempos verbais, conjunções, etc.), que definem as relações entre
frases e sequência de frases e no interior das mesmas, e lexicais,
através da reiteração, da substituição e da associação (cf.
COSTA VAL, 2006, p.6). As várias possibilidades de coesão textual
podem ser agrupadas em três grandes tipos (cf. FÁVERO, 1995):
1)
Coesão referencial
2)
Coesão recorrencial
3)
Coesão seqüencial
Diz
respeito aos elementos que têm a função de estabelecer referência.
Não são interpretados pelo seu sentido próprio, mas referem-se a
alguma outra coisa, relacionando o signo a um objeto. A coesão
referencial é obtida por meio da substituição e reiteração de
termos.
Esta
se dá quando, apesar de retomadas estruturais, a informação
progride, o discurso segue a diante. A coesão recorrencial é obtida
por meio da recorrência de termo, paralelismo, paráfrase e recursos
fonológicos.
Esta
tem por função (assim como a recorrencial) fazer o texto progredir,
encaminhar o fluxo informacional, porém não pela retomada de itens
ou estruturas, mas pela seqüenciação das sentenças através de
mecanismos temporais e conectivos.
3. Outras teorias
cujo objeto de estudo é o texto
Devido à ruptura com o
estruturalismo, em outras áreas também surgiram novos campos de
investigação, muitos dos quais tomaram o texto, e não a frase,
como objeto de estudo.
Um desses campos é a
Sociolinguística, que investiga a relação entre linguagem e
sociedade, postulando o princípio da diversidade linguística. Faz
parte da corrente das orientações teóricas contextuais e
funcionais, analisando ainda as relações de poder ligadas à
linguagem, e busca relacionar variações linguísticas a
diferenciações na estrutura social de uma sociedade. Para isso,
considera fatores socialmente definidos, como: identidade social do
falante e do ouvinte, contexto social e o julgamento
linguístico-social feito pelos falantes sobre si e os outros. A
prioridade da Sociolinguística é o estudo da língua falada em seu
contexto social, especialmente a questão das minorias linguísticas
e do insucesso escolar de crianças de grupos sociais desfavorecidos.
A língua é vista, ainda, como variável de diversas formas.
Já a Pragmática analisa o uso
concreto da linguagem e as condições que governam esse uso,
considerando a fala, sem observar a Língua isolada de sua produção
social. Ela interessa-se por elementos criativos e inovadores no
processo de uso da linguagem, como o erro, a exceção e a licença
poética. Suas principais correntes são o Pragmatismo Americano
(inclusão do sujeito na construção do sentido), os Estudos dos
Atos de Fala (linguagem ligada à ação e interação) e os Estudos
da Comunicação (interesses das anteriores, mais as questões
sociais e históricas). A Teoria dos Atos de Fala é a mais influente
atualmente. Para ela, os enunciados são performativos (realizam
ações ao serem ditos) ou constativos (apenas uma afirmação ou
constatação), e os atos são locucionários (dizem alguma coisa),
ilocucionários (reflete a posição do locutor em relação ao que
diz) e perlocucionários (produzem certos efeitos e consequências
sobre os interlocutores ou outras pessoas). Tais atos dependem do
contexto para a interpretação de seu sentido.
A Análise do Discurso, por sua
vez, enfatiza o funcionamento linguístico-textual dos discursos no
contexto histórico-social. Possui três práticas: a tradição
filológica (história e reflexão sobre os textos), a prática da
explicação de textos (teoria da leitura) e base no estruturalismo
(texto diferenciado dos modos de estudo da filologia). Tem influência
marxista, e afirma que a ideologia é materializada pela linguagem, e
seu objetivo é apreender a linguagem enquanto discurso, prática
social de produção de textos, materializando o contato entre o
linguístico e o não-linguístico.
A Semiótica Discursiva também
possui o texto como objeto de estudo, e busca explicar os sentidos do
texto a partir de sua organização linguístico-discursiva e de suas
relações com a sociedade e com a história. “Texto”, no caso,
refere-se a produções verbais, não-verbais ou mistas.
Os
Estudos Enunciativos tratam
da realização vocal da língua, ou seja, da enunciação. De acordo
com Ducrot, existem três funções enunciativas: o sujeito empírico
(autor, agente reprodutor de discursos), o locutor (responsável pelo
ato praticado, mas não pelo conteúdo), e o enunciador (vários
pontos de vista percebidos no mesmo enunciado).
4. Diferenças e
características da fala e da escrita: diferentes níveis de
formalidade, organização e variação
Embora sejam modalidades do mesmo
sistema linguístico, a fala e a escrita têm características
próprias.
Os estudiosos da língua afirmam que a
produção textual situa-se ao longo de um “continuum”
tipológico, com a escrita formal e a oralidade informal nas
extremidades. Alguns gêneros se aproximam mais da fala e outros da
escrita, e outros ainda relacionam fala e escrita intimamente; a
relação entre as duas, entretanto, não é limitada. O continuum da
fala, sobreposto ao da escrita, indica as diferenças e semelhanças
entre as duas.
A partir da década de 60, alguns
estudiosos atribuíram, de forma preconceituosa, características à
fala e à escrita. Entretanto, a diferenciação realizada não
procedia, pois as características não eram exclusivas das
modalidades, podendo apresentar-se em ambas dependendo do gênero
textual.
As características de fato inerentes
à fala são: planejamento local, planejamento e verbalização
concomitantes, descontinuidades frequentes no discurso, sintaxe
ligada à sintaxe geral da língua, e dinamismo. A fala é uma
co-produção entre os interlocutores; as pressões pragmáticas
priorizam-se frente às exigências sintáticas, ocorrendo
truncamentos, correções, repetições. Mas a fala não é um texto
caótico, tendo estrutura própria.
Algumas interferências da oralidade
ocorrem sobre a escrita, em especial quando o indivíduo é iniciante
na escrita, não dominando as particularidades dessa modalidade. Há,
por exemplo, a questão da referência: enquanto na fala, situação
frequentemente presencial, é possível indicar o objeto a que a
pessoa se refere por meio de gestos, na escrita isso não acontece,
sendo necessário o uso de pronomes e outras estruturas linguísticas
para garantir a clareza do discurso. Outras interferências são: as
repetições, usadas como mecanismo de organização na fala, com
funções variadas; os organizadores textuais, que continuam tópicos
da fala (e, aí, daí, então etc); a justaposição de enunciados
sem marca de conexão explícita (pontuação, conjunções); o
discurso citado, no estilo direto, sem verbo que introduza a fala do
outro; a segmentação gráfica, através da junção e/ou divisão
de palavras de acordo com o que se ouve; a grafia correspondente à
palavra da forma que é ouvida; e a correção feita como em texto
oral, sem apagar ou riscar a palavra errada, mas sim colocando-a em
seguida.
Dentre as perspectivas teóricas em
relação à fala e à escrita, há a visão da dicotomia Fala x
Escrita, que as polariza. Essa teoria originou o prescritivismo
gramatical e a norma linguística. Ela descreve a fala como
contextual, implícita, redundante, não planejada, imprecisa e não
normatizada; já a escrita é vista como descontextualizada,
explícita, condensada, planejada, precisa e normatizada. Tal visão
formalista que originou as Gramáticas Pedagógicas separa forma e
conteúdo, classificando a fala como pouco complexa e as bases da
escrita como conjunto de regras.
Outras teorias são as da Oralidade x
Letramento, voltada para as diferenças entre essas práticas
sociais, sendo a oralidade a prática social sob várias formas ou
gêneros textuais, e sendo o letramento o uso social da escrita; e o
binômio Fala x Escrita, voltado às diferenças entre essas duas
modalidades de uso da língua, sendo a fala um discurso que dispensa
aparato técnico, e a escrita, uma tecnologia de representação.
Já a teoria da oralidade e escrita no
contexto das práticas sociais, de Marcuschi, situa o texto
(oralidade e escrita) como prática social, e não artefato
linguístico.
A fala é primária, sendo prática
social cotidiana natural do ser humano, enquanto a escrita é
derivada, prática de ambiente formal, por isso prestigiada. Todas as
práticas sociais são permeadas pela escrita sob a forma de
“letramento”, e mesmo pessoas analfabetas estão sob influência
das estratégias da escrita em seu desempenho oral.
Vale lembrar que letramento não é
alfabetização. Letramento é o processo de aprendizagem
sócio-histórica da leitura e escrita para fins utilitários, em
contextos informais; alfabetização é o domínio ativo das
habilidades de ler e escrever. Já a escolarização é a prática
formal de ensino para a formação do indivíduo, estando a
alfabetização dentre suas atividades.
A escrita é fonte de preconceito, uma
vez que relaciona desenvolvimento à alfabetização. Esta se dá sob
controle do estado, portanto a aquisição da escrita sofre
influências ideológicas. Já a fala é cotidiana e a oralidade
ocorre em diferentes contextos.
A visão da tendência fenomenológica
de caráter culturalista da oralidade x escrita possui perspectiva
epistemológica, observando as práticas sociais da oralidade x
escrita, analisando cognitivamente os efeitos de organização e
produção do conhecimento no aspecto psico-sócio-econômico-cultural.
Para ela, o domínio da escrita representa avanço nas capacidades
cognitivas individuais e progresso, atribuindo à oralidade
características como: pensamento concreto, raciocínio indutivo,
atividade artesanal, tradicionalismo e ritualismo. Tal visão, porém,
é etnocêntrica, supervaloriza a escrita e tem tratamento
globalizante.
A perspectiva variacionista trata da
escrita no processo educacional e a variação entre língua padrão
e não-padrão no ensino formal. Há regularidades e variações, mas
não dicotomias. Marcuschi argumenta, entretanto, que fala e escrita
não são dialetos, e sim modalidades de uso da língua, sendo o
aluno bimodal.
A perspectiva interacional consideram
o continuum textual, baseando-se na relação dialógica no uso, nas
estratégias de linguagem, nas funções interacionistas, no
envolvimento e situacionalidade e na formulaicidade. Possui baixo
potencial explicativo e descritivo dos fenômenos sintáticos e
fonológicos da língua. Essa visão observa a diversidade de formas
textuais produzidas por monólogo e diálogo, tratando também de
fenômenos de compreensão na interação verbal e no texto escrito.
Defende a não polarização da relação fala x escrita,
orientando-se por uma linha discursiva e interpretativa.
Portanto, não se pode polarizar fala
x escrita. A língua, em ambas as suas modalidades, reflete a
organização da sociedade, revelando-se em práticas socioculturais
específicas, não sendo uma modalidade superior à outra.
5. Considerações sobre a análise
da conversação
A Análise da Conversação é
interdisciplinar, buscando estabelecer relações com a exterioridade
da linguagem, problematizando a separação entre a materialidade da
língua e seus contextos de produção, mobilizando saberes de outras
ciências.
Para Marcuschi, autor do primeiro
livro na área no Brasil, a conversação é exercício prático das
potencialidades cognitivas do ser humano em suas relações
interpessoais. Ela trata da interação verbal, investigando aspectos
da organização do texto conversacional.
Os analistas devem se centrar nos
detalhes estruturais do processo interativo, em três níveis
essenciais: macronível (fases conversacionais: abertura, fechamento
e parte central, tema central e subtemas da conversação), nível
médio (turno conversacional, tomada de turnos, sequência, atos de
fala, marcadores) e micronível (elementos internos do ato de fala,
constituindo sua estrutura sintática, lexical, fonológica e
prosódica).
O objeto de estudos da Análise da
Conversação é o texto, mais especificamente o texto oral, natural
e presencial, produzido em situações espontâneas.
Quando duas ou mais pessoas conversam,
aborda-se um ou mais tópicos discursivos, que são a base do texto
oral. A organização tópica pauta-se em três propriedades: a
centração, a organicidade e a delimitação.
O tópico discursivo (aquilo sobre o
que se fala) é o fio condutor da conversação, da organização
linear do discurso, e sua unidade funcional é o turno (tempo que
cada falante ocupa). A conversa é atividade co-produtiva sem
controle exato de intervenção, mas há uma negociação entre os
interlocutores no curso da conversa.
Ao longo da conversa, tomam lugar
novos tópicos ligado a aspectos marginais do tópico anterior ou a
novos conjuntos introduzidos. O planejamento da fala é local,
portanto ocorre na interação, e o grau de formalidade varia.
Na Análise da Conversação, há
alguns pontos de especial importância. Um deles é o tratamento dos
dados orais. Para que um analista possa observar e transcrever uma
conversa fielmente, é necessário que ela seja gravada ou filmada. A
transcrição deve ser legível, mesmo que aspectos fundamentais
sejam privilegiados. Assim, existem normas de transcrição
específicas.
A Análise da Conversação analisa
também os recursos não verbais usados na fala. Steinberg
sistematiza tais recursos em: paralinguagem (sons emitidos que não
são signos, porém interferem na significação, como shiii, tsc tsc
etc.), cinésica (movimentos do corpo, mãos, gestos), proxêmica
(proximidade/distância entre interlocutores), tacêsica (toque
durante a conversação) e silêncio (ausência de conversação).
Outro ponto importante na Análise da
Conversação é a organização da conversa. Durante uma conversa,
os interlocutores devem falar um de cada vez, aguardando um lugar
relevante para a transição (LRT), que marca o fim do turno (pausas,
hesitações, marcadores). Entretanto, é possível que mais de um
interlocutor fale ao mesmo tempo e que a mensagem seja entendida.
Um turno pode ter o sentido de
distribuição de turno ou de unidade construcional. Turnos podem ser
nucleares (centrais no tópico discursivo) e inseridos (marginais ao
tópico discursivo). Passagem (requerida ou consentida pelo falante),
assalto (invasão de turno sem consentimento) e sustentação
(tentativa de garantir a posse do turno, por alongamentos,
repetições, elevação de voz etc.) da fala podem causar a mudança
de turno.
Os marcadores conversacionais também
são um ponto importante da Análise da Conversação. O texto oral é
planejado e verbalizado concomitantemente, portanto utiliza-se de
marcadores verbais, não-verbais e prosódicos, que marcam
finalização de turno, participação e convergência. Esse
marcadores são produzidos para dar tempo à organização do
pensamento, manter o turno, corrigir-se, reorientar o discurso, ou,
no caso do ouvinte, orientar o falante com indicações de indagação,
convergência ou divergência.
Os marcadores são divididos em quatro
grupos: simples (um item lexical, “mas”, “aí”), compostos
(sintagmas estereotipados, “sim mas”, “bom mas aí”),
oracionais (pequenas orações, “sim mas me diga”) e prosódicos
(entonação, pausa, hesitação, tom de voz).
A construção da compreensão no
texto falado é outro ponto a ser abordado. Numa conversa, os
indivíduos constroem um texto coerente, cujo sucesso é atrelado ao
processo interacional, composto de atividades cooperativas e
coordenadas de co-produção de sentido. Dentre as atividades de
compreensão, destacam-se: a negociação, a construção de um foco
comum, a demonstração de (des)interesse e (não-)partilhamento, a
existência e diversidade de expectativas, e as marcas de atenção.
6. Leitura, oralidade e escrita:
práticas linguísticas, sociais e pedagógicas
Historicamente, as práticas de
Escrita e Leitura se configuraram como representações
sócio-discursivas de diferentes classes e aquelas práticas
relacionadas às classes econômico e politicamente dominantes foram
atreladas ao “bom uso” do vernáculo, à aquisição e acúmulo
do conhecimento (e sua organização), ao progresso e avanço
científico-tecnológico e à ascensão social. Nessa perspectiva,
vinculou-se à escola, sobretudo, o papel de “ensinar”,
reproduzir e reconhecer tais práticas.
Os sentidos que as crianças atribuem
à escrita, seus esquemas de interpretação, são variados e
dependem das experiências passadas, bem como dos conhecimentos
adquiridos – a escola confunde falta de conhecimento com inaptidão
para adquirir os conhecimentos acadêmicos, não reconhecendo o saber
do aluno e rotulando-os: “os alunos fracos”, “os que não
sabem”.
Sobre a questão da oralidade na
escola, Brito (1985) postula que “O processo de construção de
redação é uma disputa (não uma integração) constante entre a
competência linguística do estudante (basicamente oral, não-formal
e desescolarizada) e a imagem de língua escrita que cria a partir da
imagem do interlocutor e de interlocuções privilegiadas (...) Como
esse interlocutor tem caráter fortemente repressivo e valorativo, o
estudante, na necessidade de mostrar que “sabe”: - nega sua
capacidade linguística oral; cria uma imagem de língua a partir das
fontes que identifica com a imagem do interlocutor, isto é, relações
sociais em que haja (ou o aluno identifique) marcas de autoridade,
padrão culto etc.” (BRITO, 1985, p.125).
Geraldi (1985) conclui que, nessas
condições, quanto menos conhecimento específico sobre a linguagem
escrita (metalinguístico) a criança tem, mais noção da
funcionalidade escrita ela demonstra.
As situações de ensino/aprendizagem
devem ser instauradoras da relação de interação e interlocução
– ela é objeto de conhecimento e constitutiva do conhecimento na
interação. Não se trata apenas de ensinar (no sentido de
transmitir) a escrita, mas de usá-la como interação e interlocução
na sala de aula, experimentando a linguagem nas suas várias
possibilidades.
Buscando, então, transformar algumas
condições e procedimentos de ensino nas escolas, começamos a usar,
como uma das formas de articulação das atividades e de constituição
da interdiscursividade, a literatura infantil. Além da literatura,
procurávamos implementar as várias formas de linguagem (plástica,
corporal etc.) possíveis e viáveis nas situações escolares. E por
que a utilização da literatura? “Porque a literatura, como
discurso escrito, revela, registra e trabalha formas e normas do
discurso social; ao mesmo tempo, instaura e amplia o espaço
interdiscursivo, na medida em que inclui outros interlocutores – de
outros lugares, de outros tempos – criando novas condições e
novas possibilidades de troca de saberes, convocando os
ouvintes/leitores a participarem como protagonistas no diálogo que
se estabelece”. (SMOLKA, 1988, p.80).
Nesse processo, a escrita integra o
habitus e a possibilidade, a necessidade e o gosto (também forjados
socialmente) da interação por escrito ganham força na
correspondência e no registro das experiências. Mas relato e ficção
se fundem, se confundem: o imaginário também ganha força. Fatos e
crenças, ritos e mitos, medos e desejos são explicitados. “É o
discurso cotidiano que começa a ser marcado pelo trabalho de
escritura das crianças e que traz, portanto, as marcas da realidade
sócio-cultural dos indivíduos e dos grupos em interação.”
(SMOLKA, 1988, p.100).
7. Estratégias de leitura: cognitivas e metacognitivas.
Neste conteúdo as ideias irão
circular em torno dos pensamentos da autora Ângela Kleiman (2004),
ela explica sobre as estratégias da leitura, visando a aprendizagem
da capacidade de ler, e foca na questão da viabilidade de ensinar a
ler porque isso é algo singular, a construção do significado se
configura num contexto e diante a interação autor/leitor.
O ensino da leitura deve focar o
desenvolvimento de estratégias de leitura e de habilidades.
A autora aborda duas estratégias: as
estratégias cognitivas, que são as operações inconscientes do
leitor que ele utiliza quando vai ler.
A segunda, são as estratégias
metacognitivas, são o oposto da anterior, é quando fazemos algo que
tem o objetivo de melhorar a compreensão do texto, como por exemplo,
ler novamente.
Essas estratégias proporcionam uma
capacidade a mais para o leitor aprendiz, porque ele vai possuir
varias maneiras de compreender o texto.
O leitor também deve ter liberdade
para escolher o que vai ler, com isso, geralmente, ele escolhera algo
que já conhece, utilizando seus conhecimentos prévios e mais
outros.
Os professores devem escolher textos
verbais e não verbais para definir os objetivos da leitura, os
textos publicitários é um dos que seguem essa forma.
No entanto, a autora enfatiza que a
interpretação deve ser auxiliada pelo educador, porque o leitor
iniciante pode acabar não entendendo a mensagem e assim a leitura se
torna vaga e não construira capacidades no leitor.
8. Leitor analisador e leitor
(re)construtor
As ideias deste tema serão ao redor
do pensamento da autora Mary Kato, e também da Ângela Kleiman, do
conteúdo anterior.
Para Kato, existem dois tipos de
leitor, o leitor analisador, que olha todo o texto primeiro, e
procura entender pelo que percebeu todo o resto do texto, o segundo
tipo é o construtor, este faz uso dos conhecimentos prévios, sem
utilizar a questão visual.
A autora afirma que se o leitor
utilizar os dois métodos, poderá ter uma compreensão bem mais
ampla do texto, sem deixar de levar em conta a questão do
cooperativismo entre o leitor e o escritor do texto.
E principalmente, o leitor deve
sempre, tentar ir mais além na leitura, pois nem sempre o escritor
coopera com o texto, deixando a interpretação mais difícil.
Fonte: Livro-texto da disciplina de Teorias do Texto - UNIP
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