A UM POETA
OLAVO BILAC
Longe do estéril turbilhão da rua,
Beneditino escreve! No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha e teima, e lima , e sofre, e sua!
Mas que na forma se disfarce o emprego
Do esforço: e trama viva se construa
De tal modo, que a imagem fique nua
Rica mas sóbria, como um templo grego
Não se mostre na fábrica o suplicio
Do mestre. E natural, o efeito agrade
Sem lembrar os andaimes do edifício:
Porque a Beleza, gêmea da Verdade
Arte pura, inimiga do artifício,
É a força e a graça na simplicidade.
Análise:
Olavo Bilac é considerado, pelos críticos e historiadores literários, um dos maiores expoentes do chamado movimento parnasiano. A estética, que visava retomar características da poesia produzida na Antiguidade Classica e nos movimentos que pautaram-se pelos ideais greco-latinos da Antiguidade, começou a ser praticada, no Brasil, no século XIX. Se o realismo-naturalismo foi, na prosa, uma resposta ao romantismo, os poetas parnasianos buscaram combater a poesia romântica. Para isso, buscaram fazer uma poesia objetiva, clara, sem os exageros românticos, cujo objetivo era o de exaltar as formas fixas — soneto, baladas, idílios, etc. — praticadas pelas poetas do mundo clássico.
“A um poeta”, juntamente com “Profissão de fé”, elenca o modo de fazer poesia proposto pelos parnasianos. O soneto à Petrarca — forma mais adorada pelos parnasianos —, composto por versos formados por 10 sílabas métricas, em seus três primeiros versos, mostra que um poeta pode trabalhar, somente, isolado da multidão. Assim, o poeta, quando está escrevendo seus versos, deve encontrar um lugar tão sossegado e silencioso como um mosteiro, haja vista que o turbilhão da rua impede o ato de criação, pois é estéril. O último verso, da primeira estrofe, mostra que, para alcançar a forma perfeita, faz-se necessário trabalhar bem com o objeto da poesia, isto é, a palavra.
A ideia de moldar, perfeitamente, a forma, estende-se na segunda quadra. Todavia, o sujeito lírico adverte que o resultado final, isto é, a conclusão do poema, deve ocultar todo esforço que o poeta empregou na construção dos versos. Nesse sentido, o eu lírico compara a forma perfeita a de um templo grego. Eis, desse modo, a ligação com os clássicos, que aparece, não-somente na estrutura do texto (a forma dum soneto), mas também, explicitamente, num dos versos.
O primeiro terceto traz o mesmo pensamento da estrofe anterior. O ato de criação, comparado a um extremo sofrimento, jamais deve, na visão do sujeito lírico, transparecer no resultado final. A forma é tudo; o edifício não pode conter marcas do andaime. Em outras palavras, a forma perfeita deve ser leve, natural, as dificuldades de sua construção não podem ser vistas.
Nos três versos final, o belo é o sinônimo de verdade; logo a forma perfeita é, para os poetas parnasianos, a única maneira de construir uma poesia bela e verdadeira. Desviar-se do culto à forma seria, desse modo, um erro. Em suma, poder-se-ia dizer que “o último verso sintetiza de modo admirável o ideal parnasiano de perfeição formal, pois conjuga elementos clássicos de equilíbrio, de harmonia” (BASTOS, 2004, p. 72).
INTEGRANTES:
Ana Elisa
Hellem Silva
Israel