segunda-feira, 19 de maio de 2014

Análise do poema Hebreia de Castro Alves

O Poema Hebreia faz parte da Obra Espumas Flutuantes, único livro publicado de Castro Alves, lançado em 1880.  O livro possui textos de caráter épico-social, lírico-amoroso e cômico. A Obra faz parte da terceira geração do Romantismo brasileiro, conhecida também como geração condoreira. Hebreia é um poema lírico-amoroso de sete estrofes com versos decassílabos que são divididos em quadras.  

Hebréia

Flos campi et lilium convallium.

Cant. dos Canticos



Pomba d'esp'rança sobre um mar d'escolhos!
Lírio do vale oriental, brilhante!
Estrela vésper do pastor errante!
Ramo de murta a recender cheirosa!...

Tu és, ó filha de Israel formosa...
Tu és, ó linda, sedutora Hebréia...
Pálida rosa da infeliz Judéia
Sem ter o orvalho, que do céu deriva!

Por que descoras, quando a tarde esquiva
Mira-se triste sobre o azul das vagas?
Serão saudades das infindas plagas,
Onde a oliveira no Jordão se inclina?


Sonhas acaso, quando o sol declina,
A terra santa do Oriente imenso?
E as caravanas no deserto extenso?
E os pegureiros da palmeira à sombra?!

Sim, fora belo na relvosa alfombra,
Junto da fonte, onde Raquel gemera,
Viver contigo qual Jacó vivera
Guiando escravo teu feliz rebanho...

Depois nas águas de cheiroso banho
— Como Susana a estremecer de frio —
Fitar-te, ó flor do babilônio rio,
Fitar-te a medo no salgueiro oculto...

Vem pois!...  Contigo no deserto inculto,
Fugindo às iras de Saul embora,
Davi eu fora, — se Micol tu foras,
Vibrando na harpa do profeta o canto...

Não vês?... Do seio me goteja o pranto
Qual da torrente do Cédron deserto!...
Como lutara o patriarca incerto
Lutei, meu anjo, mas caí vencido.

Eu sou o lótus para o chão pendido.
Vem ser o orvalho oriental, brilhante!...
Ai! Guia o passo ao viajor perdido,
Estrela vésper do pastor errante!...


Hebreia foi dedicado a três irmãs judias, Ester, Mary e Simy, alguns pesquisadores como Egon e Frieda Wolf acreditam que o poema está mais associado a mais velhas das três: Ester. O que se pode inferir desta informação são as citações a lugares do Oriente Médio como em: “Serão saudades das infindas plagas, / Onde a oliveira no Jordão se inclina?” e em: “Não vês?... Do seio me goteja o pranto/ Qual da torrente do Cédron deserto!... (...)”. Outro ponto interessante é o fato de Castro Alves retratar de certa forma, a saída dos judeus de sua terra de origem, originando um saudosismo, juntamente com o lirismo do eu lírico ao sonhar com o amor da hebreia. Os recursos utilizados em Hebreia são: reticências, exclamações e apóstrofos. As figuras de linguagem mais utilizadas são anáfora (repetição de: pastor errante, brilhante e estrela vésper), apostrofe (Vem, pois!..., Vem ser o orvalho oriental) e hipérbato (Do seio me goteja o pranto).  Para Antonio Candido e J. Aderaldo Castelo essa apresentação de características de povos estrangeiros pode ser explicada: “A curiosidade do romântico, alimentada pela sua insatisfação e também indefinição, multiplica-se no tempo e no espaço. Ela pode ser largamente enumerada, a partir do interesse pela cor, pelo exotismo que apresentam os países estrangeiros ou as regiões longínquas, com outros povos e civilizações. (...) para o brasileiro a Europa, por exemplo, aspectos da paisagem romântica da Itália, o mistério também do Oriente, sugestões retomadas à Bíblia, frequentes em Castro Alves que chegou mesmo a contaminar com tudo isso as impressões da própria paisagem brasileira.”.


 Logo no inicio do poema, na epígrafe, temos referência às palavras dos Cânticos dos Cânticos, a Salomão e ao Antigo Testamento, ambos são elementos encontrados na Bíblia. Os dois primeiros versos referem-se à mulher amada, ele utiliza a palavra brilhante para caracterizá-la como sinônimo de pureza, de brancura. Além disso, há referências que rementem ao povo judaico e sua cultura, como: Lírio do vale oriental e ramo de murta, e também a um elemento da natureza, “Estrela vésper do pastor errante! (...)”. Na segunda estrofe, percebe-se novamente a presença de verbetes associados aos judeus como Israel e Judeia, o uso de adjetivos para qualificar a mulher, um deles é sedutora, que demonstra uma amada mais sensual. O terceiro e quarto versos da terceira estrofe, aludem à saudade e à vontade de retornar a sua terra sentida pelos judeus exilados: “Serão saudades das infindas plagas,/ Onde a oliveira no Jordão se inclina?”. O mesmo saudosismo aparece outra vez na quarta estrofe, da mesma forma que as referências a alguns elementos do Oriente: “A terra santa do Oriente imenso? (...)” e “E as caravanas no deserto extenso? (...)”. No parágrafo cinco, temos personagens bíblicos como Jacó e Raquel, que representam o amor que o eu lírico sente, já que por amor Jacó esperou e trabalhou durante 14 anos por sua amada e também a idealização da mulher, assim como foi Raquel.  Além disso, vemos que o eu lírico revela que os dois não estão juntos, demonstrando um amor não concretizado: “Sim, fora belo na relvosa alfombra, (...)”. Citações a objetos do Mediterrâneo, como: babilônio rio, aparecem na sexta estrofe, assim como a presença da judia Suzana, conhecida por sua beleza e pureza. Na sétima estrofe temos mais personagens bíblicos Saul, Davi e Micol que também protagonizam uma narrativa de amor e alusão a um instrumento musical da cultura judaica, a harpa. A oitava estrofe é marcada pela comparação do eu lírico a um patriarca e pela luta do mesmo pela sua amada: “Como lutara o patriarca incerto / Lutei, meu anjo, mas caí vencido (...)”. Por fim, a última estrofe, ele clama pelo amor da mulher e a considera como um guia e se considera o pastor errante. Portanto, o poema retrata o sentimento de amor idealizado e o saudosismo dos judeus exilados, que são contrastados através de elementos da natureza que estão constantemente presentes em Hebreia.





Bibliografia: CANDIDO, Antonio; CASTELLO, J. Aderaldo. Presença da Literatura Brasileira: História e antologia: Das origens ao Realismo. 5ª Ed. São Paulo: Bertrand Brasil, 1992.


Grupo:

B53FBA3 - ALEXANDRE ALMEIDA DE OLIVEIRA
B249285 - FRANCINE MAXIMILIANO DA ROSA
B261323 - GISLENE DA SILVA PINHEIRO
B447508 - JOÃO PAULO GIOVANELLI SILVA
B32IBH5 - LUCIENE GONÇALVES RUBIAL
B4424E9 - TACIANE ROBERTA R B SANT’ANA

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