O
Poema Hebreia faz parte da Obra Espumas Flutuantes, único livro publicado de
Castro Alves, lançado em 1880. O livro possui
textos de caráter épico-social, lírico-amoroso e cômico. A Obra faz parte da
terceira geração do Romantismo brasileiro, conhecida também como geração
condoreira. Hebreia é um poema lírico-amoroso de sete estrofes com versos
decassílabos que são divididos em quadras.
Hebréia
Flos campi et lilium convallium.
Cant. dos Canticos
Pomba
d'esp'rança sobre um mar d'escolhos!
Lírio
do vale oriental, brilhante!
Estrela
vésper do pastor errante!
Ramo
de murta a recender cheirosa!...
Tu
és, ó filha de Israel formosa...
Tu
és, ó linda, sedutora Hebréia...
Pálida
rosa da infeliz Judéia
Sem
ter o orvalho, que do céu deriva!
Por
que descoras, quando a tarde esquiva
Mira-se
triste sobre o azul das vagas?
Serão
saudades das infindas plagas,
Onde
a oliveira no Jordão se inclina?
Sonhas
acaso, quando o sol declina,
A terra
santa do Oriente imenso?
E
as caravanas no deserto extenso?
E
os pegureiros da palmeira à sombra?!
Sim,
fora belo na relvosa alfombra,
Junto
da fonte, onde Raquel gemera,
Viver
contigo qual Jacó vivera
Guiando
escravo teu feliz rebanho...
Depois
nas águas de cheiroso banho
—
Como Susana a estremecer de frio —
Fitar-te,
ó flor do babilônio rio,
Fitar-te
a medo no salgueiro oculto...
Vem
pois!... Contigo no deserto inculto,
Fugindo
às iras de Saul embora,
Davi
eu fora, — se Micol tu foras,
Vibrando
na harpa do profeta o canto...
Não
vês?... Do seio me goteja o pranto
Qual
da torrente do Cédron deserto!...
Como
lutara o patriarca incerto
Lutei,
meu anjo, mas caí vencido.
Eu
sou o lótus para o chão pendido.
Vem
ser o orvalho oriental, brilhante!...
Ai!
Guia o passo ao viajor perdido,
Estrela
vésper do pastor errante!...
Hebreia foi dedicado a três
irmãs judias, Ester, Mary e Simy, alguns pesquisadores como Egon e Frieda Wolf
acreditam que o poema está mais associado a mais velhas das três: Ester. O que
se pode inferir desta informação são as citações a lugares do Oriente Médio
como em: “Serão saudades das infindas plagas, / Onde a oliveira no Jordão se
inclina?” e em: “Não vês?... Do seio me goteja o pranto/ Qual da torrente do
Cédron deserto!... (...)”. Outro ponto interessante é o fato de Castro Alves
retratar de certa forma, a saída dos judeus de sua terra de origem, originando
um saudosismo, juntamente com o lirismo do eu lírico ao sonhar com o amor da
hebreia. Os recursos utilizados em Hebreia são: reticências, exclamações e
apóstrofos. As figuras de linguagem mais utilizadas são anáfora (repetição de:
pastor errante, brilhante e estrela vésper), apostrofe (Vem, pois!..., Vem ser
o orvalho oriental) e hipérbato (Do seio me goteja o pranto). Para Antonio Candido e J. Aderaldo Castelo
essa apresentação de características de povos estrangeiros pode ser explicada:
“A curiosidade do romântico, alimentada pela sua insatisfação e também
indefinição, multiplica-se no tempo e no espaço. Ela pode ser largamente
enumerada, a partir do interesse pela cor, pelo exotismo que apresentam os
países estrangeiros ou as regiões longínquas, com outros povos e civilizações.
(...) para o brasileiro a Europa, por exemplo, aspectos da paisagem romântica
da Itália, o mistério também do Oriente, sugestões retomadas à Bíblia,
frequentes em Castro Alves que chegou mesmo a contaminar com tudo isso as
impressões da própria paisagem brasileira.”.
Logo no inicio do poema, na epígrafe, temos
referência às palavras dos Cânticos dos Cânticos, a Salomão e ao Antigo
Testamento, ambos são elementos encontrados na Bíblia. Os dois primeiros versos
referem-se à mulher amada, ele utiliza a palavra brilhante para caracterizá-la
como sinônimo de pureza, de brancura. Além disso, há referências que rementem
ao povo judaico e sua cultura, como: Lírio do vale oriental e ramo de murta, e
também a um elemento da natureza, “Estrela vésper do pastor errante! (...)”. Na
segunda estrofe, percebe-se novamente a presença de verbetes associados aos judeus
como Israel e Judeia, o uso de adjetivos para qualificar a mulher, um deles é
sedutora, que demonstra uma amada mais sensual. O terceiro e quarto versos da
terceira estrofe, aludem à saudade e à vontade de retornar a sua terra sentida
pelos judeus exilados: “Serão saudades das infindas plagas,/ Onde a oliveira no
Jordão se inclina?”. O mesmo saudosismo aparece outra vez na quarta estrofe, da
mesma forma que as referências a alguns elementos do Oriente: “A terra santa do
Oriente imenso? (...)” e “E as caravanas no deserto extenso? (...)”. No
parágrafo cinco, temos personagens bíblicos como Jacó e Raquel, que representam
o amor que o eu lírico sente, já que por amor Jacó esperou e trabalhou durante
14 anos por sua amada e também a idealização da mulher, assim como foi
Raquel. Além disso, vemos que o eu
lírico revela que os dois não estão juntos, demonstrando um amor não
concretizado: “Sim, fora belo na relvosa alfombra, (...)”. Citações a objetos
do Mediterrâneo, como: babilônio rio, aparecem na sexta estrofe, assim como a
presença da judia Suzana, conhecida por sua beleza e pureza. Na sétima estrofe
temos mais personagens bíblicos Saul, Davi e Micol que também protagonizam uma
narrativa de amor e alusão a um instrumento musical da cultura judaica, a harpa.
A oitava estrofe é marcada pela comparação do eu lírico a um patriarca e pela
luta do mesmo pela sua amada: “Como lutara o patriarca incerto / Lutei, meu
anjo, mas caí vencido (...)”. Por fim, a última estrofe, ele clama pelo amor da
mulher e a considera como um guia e se considera o pastor errante. Portanto, o
poema retrata o sentimento de amor idealizado e o saudosismo dos judeus
exilados, que são contrastados através de elementos da natureza que estão
constantemente presentes em Hebreia.
Bibliografia: CANDIDO, Antonio; CASTELLO, J. Aderaldo. Presença da Literatura
Brasileira: História e antologia: Das origens ao Realismo. 5ª Ed. São Paulo:
Bertrand Brasil, 1992.
Grupo:
B53FBA3 - ALEXANDRE ALMEIDA DE OLIVEIRA
B249285 - FRANCINE MAXIMILIANO DA ROSA
B261323 - GISLENE DA SILVA PINHEIRO
B447508 - JOÃO PAULO GIOVANELLI SILVA
B32IBH5 - LUCIENE GONÇALVES RUBIAL
B4424E9 - TACIANE ROBERTA R B SANT’ANA
B249285 - FRANCINE MAXIMILIANO DA ROSA
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