Análise
literária da poesia “José” (Carlos Drumond de Andrade)
José
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de
febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio - e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?
Carlos Drummond de Andrade.
Em sua primeira estrofe “ E agora, José?”,
o autor estabelece a estrutura do cultivo ao verso livre e a poesia sintética,
caracterizando a segunda fase do Modernismo. Resultando uma literatura mais
construtiva e mais politizada que não quer e nem pode se afastar das profundas
transformações ocorridas nesse período. Destacando-se ainda a consolidação das
conquistas de 22, euforia destacada no verso “ A festa acabou” .
Nas estrofes “ Esta sem mulher”, “ não
veio a utopia” e “e agora, José?”, percebemos o questionamento da realidade com
mais vigor, como forma de denuncia social dessa realidade. Há também a
ampliação da temática modernista nessa fase com uma preocupação filosófica, os
sonhos, os desejos, a utopia e a constante preocupação com os problemas do
homem na tentativa de explorar o estar no mundo.
“E agora, José?...sua incoerência, seu
ódio – e agora?” Demonstra uma certa descrença, mas e o tempo de definições, do
aprofundamento das relações do eu e do mundo, mesmo com a consciência da
fragilidade do eu, outra característica dessa fase.
Já em “Com a chave na mão... Minas
não há mais, José , e agora?” Há uma mudança a pergunta. No “e agora, José!”
Parece encontrar a esperança para logo, adiante na penúltima estrofe encontrar
descrente, desesperançado com o rumo dos acontecimentos. Mas nega a fuga da
realidade, esta atento voltado para o presente no verso- “ Você é duro, José!
Permanece!
Em “Sozinho no escuro” “você marcha,
José / José, para onde?” mostra a impossibilidade do homem chegar a algum
lugar. E o coletivo, a união como regra de uma possível transformação da
realidade. E a fase de maturidade, equilíbrio do movimento modernista, consolidação de um ideário
coerente com o espirito renovador.
Grupo:
Andreza
Ana Laura
Francisco
Octavio
Renato
Ezequiel
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