Post Mortem
Quando do amor das Formas inefáveis
No teu sangue apagar-se a imensa chama,
Quando os brilhos estranhos e variáveis
Esmorecerem nos troféus da Fama.
Quando as níveas Estrelas invioláveis,
Doce velário que um luar derrama,
Nas clareiras azuis ilimitáveis
Clamarem tudo o que o teu Verso clama.
Já terás para os báratros descido,
Nos cilícios da Morte revestido,
Pés e faces e mãos e olhos gelados...
Mas os teus Sonhos e Visões e Poemas
Pelo alto ficarão de eras supremas
Nos relevos do Sol eternizados!
CRUZ E SOUSA
1. Vida e obra de Cruz e Souza (1861 – 1898)
Filho de escravos alforriados, ele recebe a tutela e uma educação refinado do seu ex-senhor Marechal Guilherme Xavier de Souza. Aprendeu francês, latim e grego, além de ter sido discípulo do alemão Fritz Müller, com quem aprendeu Matemática e Ciências Naturais. Cruz e Sousa é um dos patronos da Academia Catarinense de Letras, representando a cadeira número 15.
Seus poemas são marcados pela musicalidade (uso constante de aliterações), pelo individualismo, pelo sensualismo, às vezes pelo desespero, às vezes pelo apaziguamento, além de uma obsessão pela cor branca. É certo que encontram-se inúmeras referências à cor branca, assim como à transparência, à translucidez, à nebulosidade e aos brilhos, e a muitas outras cores, todas sempre presentes em seus versos.
No aspecto de influências do simbolismo , nota-se uma amálgama que conflui águas do satanismo de Baudelaire ao espiritualismo (e dentro desse, ideias budistas e espíritas) ligados tanto a tendências estéticas vigentes como às fases na vida do autor.
2. Análise do poema
2.1 Estrutura externa
O poema “Post Mortem”, de Cruz e Sousa, é um soneto, portanto formado de duas estrofes de dois quartetos e dois tercetos. Os versos são alexandrinos, ou seja, decassílabos, de origem clássica, muito usado por simbolistas e parnasianos, como o próprio autor. As rimas são prefixadas, com esquema ABAB BABA CCD EED.
2.2 Linguagem poética e estrutura interna
O poema fala da morte do artista: primeiramente, a tese da morte futura nos quartetos. Aqui, o eu-lírico fala de quando a morte chegar e o amor pela arte e a fama desaparecerem, e as estrelas forem então donas dos versos do poeta. No primeiro terceto, fala da morte em si e o degradar do corpo, dizendo que quando a situação apresentada nos quartetos acontecer, o poeta já estará morto e no inferno (bártaro), aumentando a agonia da morte.
É interessante destacar o simbolismo usado por ele, ao tratar o findar da vida na primeira e segunda estrofes. Na primeira, ele relata detalhadamente o processo, “imensa chama” e “no sangue apaga-se...”, constatando o curso da vida lentamente terminando. Já no segundo, quando ele destaca “as estrelas”, subentende-se as gerações futuras que leriam suas obras, inferindo a dura realidade do poeta ser reconhecido apenas após a morte. Por fim, diz que, mesmo que o poeta morra, sua arte viverá (“Mas os teus Sonhos e Visões e Poemas / Pelo alto ficarão de eras supremas / Nos relevos do Sol eternizados!”). Nota-se, então, o uso da antítese, a oposição da morte do autor contra a vida de sua arte.
Cruz e Sousa utiliza muito a apostrofação em suas obras, ou seja, em seu poema dirige um apelo a alguém, notável pela presença da segunda pessoa discursiva. Entretanto, o eu-lírico não busca consolar apenas a seu interlocutor, aparentemente um artista, mas também a si mesmo, ao afirmar que a vida e as glórias mundanas podem passar, mas a arte será eterna.
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Grupo:
Antônio C. Amorim
B34HAF-6
Camila Uemura
B56BCC-8
Gleidson Pereira B2773D-2
Nataline Cesar
B566BI-4
Shirley Bitelli B76461-9
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