quinta-feira, 20 de novembro de 2014

RESENHA: CAPÍTULO 6 - O ROMANCE INDIANISTA


RESENHA: CAPÍTULO 6 - O ROMANCE INDIANISTA

O capítulo começa apresentando os objetivos que deverão ser alcançados depois de estudar o projeto literário do romance indianista que são: reconhecer as características dos textos das obras, Ubirajara, Iracema e Guarani, de José de Alencar. Os alunos encontrarão releituras literárias dos símbolos da nacionalidade feitas por autores de diferentes períodos.
Nesta mesma página visualizamos a obra de Johann Moritz Rugenda, Ponte de Cipó, de 1830. O retrato mostra uma cena da vida cotidiana dos índios, escalando palmeiras, caçando, cruzando uma ponte de cipó, próximos à fumaça de uma queimada que não se pode definir o propósito. Retratando alguns costumes dos índios e a natureza exuberante. Um belo convite para começar a fazer as leituras sobre o assunto.
Logo no início são propostas atividades de leitura da imagem, com perguntas relacionadas à natureza brasileira e a relação entre os índios e seu espaço, para que o aluno perceba que o artista procurou representar o Brasil como lugar pitoresco e exótico, atendendo os anseios do público europeu.
Em seguida a atividade continua da imagem para o texto, com a interpretação de um dos textos retirados do livro Ubirajara de José de Alencar.
As atividades são uma ótima abordagem para que os alunos possam se interessar e interagir com as narrativas.

Depois que os estudantes respondem às questões, é apresentada uma linha do tempo com o panorama da história e da cultura brasileira por meio de uma série de romances ficcionais feitos por José de Alencar.

A primeira análise crítica fala sobre o índio, símbolo da nacionalidade, que foi influenciada pelo olhar dos viajantes que percorrem o Brasil em expedições científicas. José de Alencar apresenta um retrato de heróis indígenas, cujas ações inspiram admiração e espanto. Esses índios se comportam de acordo com os mais nobres princípios da sociedade burguesa (honestidade, bravura, paixão, humildade, etc.) tão valorizados pelo romantismo.

Os personagens Peri, Iracema, Jaguarê e Poti percorrem as matas brasileiras e por meio de seus gestos nobres, participam do processo de gestação do Brasil, construindo mitos e lendas que remetem à fundação do país.

O conteúdo induz o aluno a reconhecer a estrutura dos romances históricos europeus, nos quais o herói sempre é representante de um passado glorioso, eleva e dignifica a identidade do seu povo. Outro aspecto de grande importância para o projeto indianista é a linguagem, com muitas palavras de origem indígena.

Os romances indianistas fizeram grande sucesso, pois respondiam de modo direto o gosto da época. O Guarani, por exemplo, provocou uma verdadeira comoção popular, representando o idealismo e  lirismo, conceitos básicos do romantismo.

O capítulo fala também sobre o modelo importado. Em O Guarani as relações de suserania e vassalagem que se desdobram na natureza e na submissão de Peri a D. Antônio e na devoção do índio a Cecília.

Ao lado dos textos foram colocadas várias imagens com algumas curiosidades e pequenos resumos das obras, instrumentos usados pelos índios e vários retratos, que são elementos nacionais e de suma importância para conhecer um pouco a vida dos índios e seus costumes.

As páginas discorrem sobre a formação do povo e do país em três fases. José de Alencar escreveu um romance indianista tratando de cada uma dessas fases. O livro dá um resumo sucinto das três obras comentadas e aborda os pontos mais importantes.

Ubirajara aborda um momento que antecedeu a chegada dos colonizadores portugueses. Nessa obra o leitor é introduzido às lendas e mitos da terra selvagem.

Iracema trata do período inicial de ocupação das terras conquistadas, o contato entre índios e europeus e o início do processo de miscigenação das duas raças.

Em O Guarani, o processo de colonização já está adiantado, os nobres portugueses enfrentam os desafios da natureza virgem. O escritor enfatiza a importância do índio, verdadeiro herói americano na superação desses desafios. Alencar tinha a consciência da missão de construir uma literatura nacional.

Com Iracema, jovem da tribo tabajara, Alencar apresenta a lenda da fundação do Ceará, simbolizada pelo relacionamento amoroso com Martim, jovem colonizador português.  Martim enamora-se de Iracema, e como guardiã do segredo de Jurema, ela deve permanecer virgem. O amor entre eles supera obstáculos e Iracema abandona sua tribo para viver com Martim. Dessa união nasce Moacir, nome que significa filho da dor, que representa a formação do povo brasileiro, fruto da miscigenação.

O capítulo se encerra com mais exercícios para fixação e reflexão do conteúdo trabalhado.

Conclui-se que o livro é uma ferramenta importante para auxiliar o aluno na compreensão das obras, mas a leitura integral do livro é indispensável.

O conteúdo é prestigioso, o autor consegue, em poucas páginas do capítulo, colocar análises sucintas, mas muito bem colocadas e explicadas. As leituras não são cansativas como notamos em alguns outros livros.

O livro didático facilita o trabalho do professor, ter a análise comentada e todos os pequenos resumos das obras, ajuda a realizar as leituras e responder as questões necessárias para compreensão das obras. Nunca, porém, dispensando a explicação do professor, que tem o papel de esclarecer todas as dúvidas e passar, através da literatura, a nossa história, crenças e valores. Esse capítulo é um belo exemplo do papel da literatura no ensino, pois as narrativas representam a fundação do país e do povo brasileiro.
 
BIBLIOGRAFIA
ABAURRE, Maria Luzia M.; ABAURRE, Maria Bernadete M.; PONTARA, Marcela. Português: contexto, interlocução e sentido. In: ______. (Org.) O Romance Indianista. São Paulo: Ed. Moderna, 2008. p. 120-140.
 
                   Bismarck Oliveira Abrantes                       RA: B33BFE-0
Daniela Leite dos Santos                      RA: B380AH-2
Diane dos Reis                                       RA: B4401A-1
 
 
 

 

Romance urbano: uma abordagem no ensino médio

Romance urbano: uma abordagem no ensino médio
Por Camila Mitie Uemura ,Nataline Cesar e Francisco Henrique de Almeida

O livro didático Português. Linguagens 2. Literatura – Produção de texto – Gramática (Editora Saraiva, 2010) é o segundo da série composta por três livros de Língua Portuguesa voltados ao Ensino Médio. Elaborada pelos professores William Roberto Cereja e Thereza Cochar Magalhães, a obra aborda aspectos linguísticos, gramáticos, discursivos e literários de forma intercalada, permitindo a aquisição gradual das diversas características da língua, e possui exercícios retirados de provas do ENEM e de vestibulares, de modo que o estudante se prepare para ingressar no ensino superior.
Parte da “Unidade 2 – O Romantismo. A Prosa”, o “Capítulo 6 – O romance urbano”, que se estende da página 184 até a página 191, enfoca um dos tipos românticos mais populares de seu período (Romantismo, 1836 a 1881). A partir da fotografia de uma rua paulistana em 1893, são expostas as características gerais do romance urbano, de forma bastante breve, e citados alguns dos autores proeminentes da época.
Fala-se sobre obra A Moreninha e seu autor, Joaquim Manuel de Macedo, de forma geral. Um resumo e um trecho do livro são apresentados, e um quadro informativo compara o herói romântico e o herói moderno, utilizando personagens atuais para exemplificar o primeiro. Seguem exercícios relacionados ao trecho apresentado, porém uma explicação mais detalhada da narrativa pelo professor ou a leitura da obra se faz necessário para um entendimento completo das questões. Caixas informativas explicam curiosidades da época e as diferenças entre personagens planas e esféricas.
A seguir, há uma explicação sobre a obra Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida, tratando de aspectos gerais do autor e da obra, bem como um resumo do enredo. Uma caixa informativa fala sobre a importância dessa obra na representação das classes baixas, bem como de outras das obras da época.
Uma explicação sobre José de Alencar e sua obra, Senhora, vem em seguida, citando alguns dos outros trabalhos do escritor. Analisam-se as características da obra e há também breve resumo. Há trechos das duas obras anteriores, e exercícios que, novamente, podem ser respondidos pelo fragmento, mas ainda assim seriam necessárias uma explicação maior e leitura da obra para pleno entendimento das questões.  
Com oito páginas dedicadas exclusivamente ao romance urbano, e considerando a carga de conteúdo que a disciplina de Língua Portuguesa como um todo possui no ensino médio, o livro conseguiu abordar adequadamente, mesmo que de forma geral, as principais características desse tipo de romance. Em consonância com a preocupação com a continuidade dos estudos, o livro apresentou e examinou as obras clássicas das listas de leitura dos principais vestibulares. Entretanto, para que o aluno obtenha um bom resultado, e mesmo para que responda as questões propostas no livro didático, é necessária a leitura integral das obras. Naturalmente, o papel do professor não se encerra no mero acompanhamento do livro: o uso de materiais complementares e de estratégias de ensino se fazem essenciais para uma aprendizagem eficaz e completa.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

CEREJA, William Roberto; MAGALHÃES, Thereza Cochar. Português . Linguagens 2 - Literatura – Produção de texto – Gramática, v.2, 7ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010.

Camila Mitie Uemura                        RA: B56BCC
 Nataline Cesar                                  RA: B566BI 4
Francisco Henrique de Almeida       RA: T325GE 9




sábado, 31 de maio de 2014

A UM POETA

OLAVO BILAC

Longe do estéril turbilhão da rua,
Beneditino escreve! No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha e teima, e lima , e sofre, e sua!

Mas que na forma se disfarce o emprego
Do esforço: e trama viva se construa
De tal modo, que a imagem fique nua
Rica mas sóbria, como um templo grego

Não se mostre na fábrica o suplicio
Do mestre. E natural, o efeito agrade
Sem lembrar os andaimes do edifício:

Porque a Beleza, gêmea da Verdade
Arte pura, inimiga do artifício,
É a força e a graça na simplicidade.

Análise:

    Olavo Bilac é considerado, pelos críticos e historiadores literários, um dos maiores expoentes do chamado movimento parnasiano. A estética, que visava retomar características da poesia produzida na Antiguidade Classica e nos movimentos que pautaram-se pelos ideais greco-latinos da Antiguidade, começou a ser praticada, no Brasil, no século XIX. Se o realismo-naturalismo foi, na prosa, uma resposta ao romantismo, os poetas parnasianos buscaram combater a poesia romântica. Para isso, buscaram fazer uma poesia objetiva, clara, sem os exageros românticos, cujo objetivo era o de exaltar as formas fixas — soneto, baladas, idílios, etc. — praticadas pelas poetas do mundo clássico.


    “A um poeta”, juntamente com “Profissão de fé”, elenca o modo de fazer poesia proposto pelos parnasianos. O soneto à Petrarca — forma mais adorada pelos parnasianos —, composto por versos formados por 10 sílabas métricas, em seus três primeiros versos, mostra que um poeta pode trabalhar, somente, isolado da multidão. Assim, o poeta, quando está escrevendo seus versos, deve encontrar um lugar tão sossegado e silencioso como um mosteiro, haja vista que o turbilhão da rua impede o ato de criação, pois é estéril. O último verso, da primeira estrofe, mostra que, para alcançar a forma perfeita, faz-se necessário trabalhar bem com o objeto da poesia, isto é, a palavra.

    A ideia de moldar, perfeitamente, a forma, estende-se na segunda quadra. Todavia, o sujeito lírico adverte que o resultado final, isto é, a conclusão do poema, deve ocultar todo esforço que o poeta empregou na construção dos versos. Nesse sentido, o eu lírico compara a forma perfeita a de um templo grego. Eis, desse modo, a ligação com os clássicos, que aparece, não-somente na estrutura do texto (a forma dum soneto), mas também, explicitamente, num dos versos.

    O primeiro terceto traz o mesmo pensamento da estrofe anterior. O ato de criação, comparado a um extremo sofrimento, jamais deve, na visão do sujeito lírico, transparecer no resultado final. A forma é tudo; o edifício não pode conter marcas do andaime. Em outras palavras, a forma perfeita deve ser leve, natural, as dificuldades de sua construção não podem ser vistas.


    Nos três versos final, o belo é o sinônimo de verdade; logo a forma perfeita é, para os poetas parnasianos, a única maneira de construir uma poesia bela e verdadeira. Desviar-se do culto à forma seria, desse modo, um erro. Em suma, poder-se-ia dizer que “o último verso sintetiza de modo admirável o ideal parnasiano de perfeição formal, pois conjuga elementos clássicos de equilíbrio, de harmonia” (BASTOS, 2004, p. 72).



INTEGRANTES:
Ana Elisa
Hellem Silva
Israel 

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Análise literária da poesia “José” (Carlos Drumond de Andrade)


José

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio - e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?

 Carlos Drummond de Andrade.


       Em sua primeira estrofe “ E agora, José?”, o autor estabelece a estrutura do cultivo ao verso livre e a poesia sintética, caracterizando a segunda fase do Modernismo. Resultando uma literatura mais construtiva e mais politizada que não quer e nem pode se afastar das profundas transformações ocorridas nesse período. Destacando-se ainda a consolidação das conquistas de 22, euforia destacada no verso “ A festa acabou” .
       Nas estrofes “ Esta sem mulher”, “ não veio a utopia” e “e agora, José?”, percebemos o questionamento da realidade com mais vigor, como forma de denuncia social dessa realidade. Há também a ampliação da temática modernista nessa fase com uma preocupação filosófica, os sonhos, os desejos, a utopia e a constante preocupação com os problemas do homem na tentativa de explorar o estar no mundo.
        “E agora, José?...sua incoerência, seu ódio – e agora?” Demonstra uma certa descrença, mas e o tempo de definições, do aprofundamento das relações do eu e do mundo, mesmo com a consciência da fragilidade do eu, outra característica dessa fase.
          Já em “Com a chave na mão... Minas não há mais, José , e agora?” Há uma mudança a pergunta. No “e agora, José!” Parece encontrar a esperança para logo, adiante na penúltima estrofe encontrar descrente, desesperançado com o rumo dos acontecimentos. Mas nega a fuga da realidade, esta atento voltado para o presente no verso- “ Você é duro, José! Permanece!

           Em “Sozinho no escuro” “você marcha, José / José, para onde?” mostra a impossibilidade do homem chegar a algum lugar. E o coletivo, a união como regra de uma possível transformação da realidade. E a fase de maturidade, equilíbrio do movimento   modernista, consolidação de um ideário coerente com o espirito renovador.

Grupo:
Andreza
Ana Laura
Francisco
Octavio
Renato
Ezequiel

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Análise do poema Hebreia de Castro Alves

O Poema Hebreia faz parte da Obra Espumas Flutuantes, único livro publicado de Castro Alves, lançado em 1880.  O livro possui textos de caráter épico-social, lírico-amoroso e cômico. A Obra faz parte da terceira geração do Romantismo brasileiro, conhecida também como geração condoreira. Hebreia é um poema lírico-amoroso de sete estrofes com versos decassílabos que são divididos em quadras.  

Hebréia

Flos campi et lilium convallium.

Cant. dos Canticos



Pomba d'esp'rança sobre um mar d'escolhos!
Lírio do vale oriental, brilhante!
Estrela vésper do pastor errante!
Ramo de murta a recender cheirosa!...

Tu és, ó filha de Israel formosa...
Tu és, ó linda, sedutora Hebréia...
Pálida rosa da infeliz Judéia
Sem ter o orvalho, que do céu deriva!

Por que descoras, quando a tarde esquiva
Mira-se triste sobre o azul das vagas?
Serão saudades das infindas plagas,
Onde a oliveira no Jordão se inclina?


Sonhas acaso, quando o sol declina,
A terra santa do Oriente imenso?
E as caravanas no deserto extenso?
E os pegureiros da palmeira à sombra?!

Sim, fora belo na relvosa alfombra,
Junto da fonte, onde Raquel gemera,
Viver contigo qual Jacó vivera
Guiando escravo teu feliz rebanho...

Depois nas águas de cheiroso banho
— Como Susana a estremecer de frio —
Fitar-te, ó flor do babilônio rio,
Fitar-te a medo no salgueiro oculto...

Vem pois!...  Contigo no deserto inculto,
Fugindo às iras de Saul embora,
Davi eu fora, — se Micol tu foras,
Vibrando na harpa do profeta o canto...

Não vês?... Do seio me goteja o pranto
Qual da torrente do Cédron deserto!...
Como lutara o patriarca incerto
Lutei, meu anjo, mas caí vencido.

Eu sou o lótus para o chão pendido.
Vem ser o orvalho oriental, brilhante!...
Ai! Guia o passo ao viajor perdido,
Estrela vésper do pastor errante!...


Hebreia foi dedicado a três irmãs judias, Ester, Mary e Simy, alguns pesquisadores como Egon e Frieda Wolf acreditam que o poema está mais associado a mais velhas das três: Ester. O que se pode inferir desta informação são as citações a lugares do Oriente Médio como em: “Serão saudades das infindas plagas, / Onde a oliveira no Jordão se inclina?” e em: “Não vês?... Do seio me goteja o pranto/ Qual da torrente do Cédron deserto!... (...)”. Outro ponto interessante é o fato de Castro Alves retratar de certa forma, a saída dos judeus de sua terra de origem, originando um saudosismo, juntamente com o lirismo do eu lírico ao sonhar com o amor da hebreia. Os recursos utilizados em Hebreia são: reticências, exclamações e apóstrofos. As figuras de linguagem mais utilizadas são anáfora (repetição de: pastor errante, brilhante e estrela vésper), apostrofe (Vem, pois!..., Vem ser o orvalho oriental) e hipérbato (Do seio me goteja o pranto).  Para Antonio Candido e J. Aderaldo Castelo essa apresentação de características de povos estrangeiros pode ser explicada: “A curiosidade do romântico, alimentada pela sua insatisfação e também indefinição, multiplica-se no tempo e no espaço. Ela pode ser largamente enumerada, a partir do interesse pela cor, pelo exotismo que apresentam os países estrangeiros ou as regiões longínquas, com outros povos e civilizações. (...) para o brasileiro a Europa, por exemplo, aspectos da paisagem romântica da Itália, o mistério também do Oriente, sugestões retomadas à Bíblia, frequentes em Castro Alves que chegou mesmo a contaminar com tudo isso as impressões da própria paisagem brasileira.”.


 Logo no inicio do poema, na epígrafe, temos referência às palavras dos Cânticos dos Cânticos, a Salomão e ao Antigo Testamento, ambos são elementos encontrados na Bíblia. Os dois primeiros versos referem-se à mulher amada, ele utiliza a palavra brilhante para caracterizá-la como sinônimo de pureza, de brancura. Além disso, há referências que rementem ao povo judaico e sua cultura, como: Lírio do vale oriental e ramo de murta, e também a um elemento da natureza, “Estrela vésper do pastor errante! (...)”. Na segunda estrofe, percebe-se novamente a presença de verbetes associados aos judeus como Israel e Judeia, o uso de adjetivos para qualificar a mulher, um deles é sedutora, que demonstra uma amada mais sensual. O terceiro e quarto versos da terceira estrofe, aludem à saudade e à vontade de retornar a sua terra sentida pelos judeus exilados: “Serão saudades das infindas plagas,/ Onde a oliveira no Jordão se inclina?”. O mesmo saudosismo aparece outra vez na quarta estrofe, da mesma forma que as referências a alguns elementos do Oriente: “A terra santa do Oriente imenso? (...)” e “E as caravanas no deserto extenso? (...)”. No parágrafo cinco, temos personagens bíblicos como Jacó e Raquel, que representam o amor que o eu lírico sente, já que por amor Jacó esperou e trabalhou durante 14 anos por sua amada e também a idealização da mulher, assim como foi Raquel.  Além disso, vemos que o eu lírico revela que os dois não estão juntos, demonstrando um amor não concretizado: “Sim, fora belo na relvosa alfombra, (...)”. Citações a objetos do Mediterrâneo, como: babilônio rio, aparecem na sexta estrofe, assim como a presença da judia Suzana, conhecida por sua beleza e pureza. Na sétima estrofe temos mais personagens bíblicos Saul, Davi e Micol que também protagonizam uma narrativa de amor e alusão a um instrumento musical da cultura judaica, a harpa. A oitava estrofe é marcada pela comparação do eu lírico a um patriarca e pela luta do mesmo pela sua amada: “Como lutara o patriarca incerto / Lutei, meu anjo, mas caí vencido (...)”. Por fim, a última estrofe, ele clama pelo amor da mulher e a considera como um guia e se considera o pastor errante. Portanto, o poema retrata o sentimento de amor idealizado e o saudosismo dos judeus exilados, que são contrastados através de elementos da natureza que estão constantemente presentes em Hebreia.





Bibliografia: CANDIDO, Antonio; CASTELLO, J. Aderaldo. Presença da Literatura Brasileira: História e antologia: Das origens ao Realismo. 5ª Ed. São Paulo: Bertrand Brasil, 1992.


Grupo:

B53FBA3 - ALEXANDRE ALMEIDA DE OLIVEIRA
B249285 - FRANCINE MAXIMILIANO DA ROSA
B261323 - GISLENE DA SILVA PINHEIRO
B447508 - JOÃO PAULO GIOVANELLI SILVA
B32IBH5 - LUCIENE GONÇALVES RUBIAL
B4424E9 - TACIANE ROBERTA R B SANT’ANA

sábado, 17 de maio de 2014

Análise do Poema “Post Mortem”, de Cruz e Sousa

Post Mortem 

Quando do amor das Formas inefáveis 
No teu sangue apagar-se a imensa chama, 
Quando os brilhos estranhos e variáveis 
Esmorecerem nos troféus da Fama. 

Quando as níveas Estrelas invioláveis, 
Doce velário que um luar derrama, 
Nas clareiras azuis ilimitáveis 
Clamarem tudo o que o teu Verso clama. 

Já terás para os báratros descido, 
Nos cilícios da Morte revestido, 
Pés e faces e mãos e olhos gelados... 

Mas os teus Sonhos e Visões e Poemas 
Pelo alto ficarão de eras supremas 
Nos relevos do Sol eternizados! 
                                                   
                                                                  CRUZ E SOUSA 



1. Vida e obra de Cruz e Souza (1861 – 1898)  
Filho de escravos alforriados, ele recebe a tutela e uma educação refinado do seu ex-senhor Marechal Guilherme Xavier de Souza. Aprendeufrancês,latimegrego, além de ter sido discípulo doalemãoFritz Müller, com quem aprendeuMatemáticae Ciências Naturais. Cruz e Sousa é um dospatronos da Academia Catarinense de Letras, representando a cadeira número 15.  
Seus poemas são marcados pela musicalidade (uso constante dealiterações), peloindividualismo, pelosensualismo, às vezes pelo desespero, às vezes pelo apaziguamento, além de uma obsessão pelacor branca.É certo que encontram-se inúmeras referências à cor branca, assim como àtransparência, àtranslucidez, ànebulosidadee aosbrilhos, e a muitas outras cores, todas sempre presentes em seus versos.  
No aspecto de influências do simbolismo, nota-se uma amálgama que conflui águas dosatanismodeBaudelaireao espiritualismo(e dentro desse, ideiasbudistaseespíritas) ligados tanto a tendências estéticas vigentes como às fases na vida do autor. 


2. Análise do poema 


2.1 Estrutura externa 
O poema “Post Mortem”, de Cruz e Sousa, é um soneto, portanto formado de duas estrofes de dois quartetos e dois tercetos. Os versos são alexandrinos, ou seja, decassílabos, de origem clássica, muito usado por simbolistas e parnasianos, como o próprio autor. As rimas são prefixadas, com esquema ABAB BABA CCD EED. 


2.2 Linguagem poética e estrutura interna 


O poema fala da morte do artista: primeiramente, a tese da morte futura nos quartetos. Aqui, eu-lírico fala de quando a morte chegar e o amor pela arte e a fama desaparecerem, e as estrelas forem então donas dos versos do poeta. No primeiro terceto, fala da morte em si e o degradar do corpo, dizendo que quando a situação apresentada nos quartetos acontecer, o poeta já estará morto e no inferno (bártaro), aumentando a agonia da morte.  
É interessante destacar o simbolismo usado por ele, ao tratar o findar da vida na primeira e segunda estrofes. Na primeira, ele relata detalhadamente o processo, “imensa chama” e “no sangue apaga-se...”, constatando o curso da vida lentamente terminando. Já no segundo, quando ele destaca “as estrelas”, subentende-se as gerações futuras que leriam suas obras, inferindo a dura realidade do poeta ser reconhecido apenas após a morte. Por fim, diz que, mesmo que o poeta morra, sua arte viverá (“Mas os teus Sonhos e Visões e Poemas / Pelo alto ficarão de eras supremas / Nos relevos do Sol eternizados!”). Nota-se, então, o uso da antítese, a oposição da morte do autor contra a vida de sua arte. 
Cruz e Sousa utiliza muito a apostrofação em suas obras, ou seja, em seu poema dirige um apelo a alguém, notável pela presença da segunda pessoa discursiva. Entretanto, o eu-lírico não busca consolar apenas a seu interlocutor, aparentemente um artista, mas também a si mesmo, ao afirmar que a vida e as glórias mundanas podem passar, mas a arte será eterna. 

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Grupo:

Antônio C. Amorim                                                          B34HAF-6
Camila Uemura                                                                B56BCC-8
Gleidson Pereira                                                              B2773D-2
Nataline Cesar                                                                  B566BI-4
Shirley Bitelli                                                                      B76461-9