Relatório-resumo
da disciplina MALP – 4° semestre
OBJETIVOS
Geral:
Desenvolver, através da revisão dos
conteúdos, metodologias de ensino da morfossintaxe para alunos do Ensino
Fundamental e do Ensino Médio tendo por base a Linguística Moderna.
Específico:
1. Relatar a abordagem dos diversos
assuntos durante as aulas de Morfossintaxe Aplicada da Língua Portuguesa para a
NP1 e NP2 do 4° semestre de 2013;
2. Aprofundar o conhecimento teórico
sobre Morfossintaxe;
3. Estabelecer sugestão de abordagem
do assunto morfossintaxe de modo a facilitar a efetiva aprendizagem
dos alunos do Ensino Médio;
4. Alimentar blog criado pela turma do
3° e 4 semestre do curso de Letras – UNIP- Dutra com os produtos gerados pelo
trabalho.
JUSTIFICATIVA
O estudo da morfossintaxe é
imprescindível para o domínio competente do uso da linguagem. Entender as
maneiras como as frases são constituídas em português, as possibilidades de
articulação dos elementos, é fundamental para o esforço de desenvolver-se como
usuário do idioma. Ora, conhecer os diversos componentes sintáticos da
frase forma parte desse estudo.
METODOLOGIA
1. O grupo revisará conteúdos e
material de apoio abordados na disciplina Morfossintaxe Aplicada da Língua
Portuguesa.
2. Em paralelo pesquisará a abordagem
do assunto em gramáticas e outros livros didáticos.
3. Ao final, sugerirá orientação
metodológica para trabalhar o assunto com alunos do Ensino Fundamental e do
Ensino Médio e postar o conteúdo desta síntese no blog
http://apsunip2012.blogspot.com.br/.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
BECHARA, E. Moderna
Gramática Portuguesa. 37ª. Ed. Atualizada pelo Novo Acordo Ortográfico. Rio
de Janeiro: Lucerna: 2009.
CEGALA, Domingos P. Novíssima
gramática da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Lucerna.
SAUTCHUK, Inez; Prática de
Morfossintaxe: Como e por que aprender análise (morfo)sintática. 2ª Edição.
Barueri, SP: Manole, 2010.
INTRODUÇÃO
As aulas de Morfossintaxe da
Língua Portuguesa foram aqui resumidas de forma diversa e tendo como base não
somente a visão do livro Prática de Morfossintaxe de Inez Sautchuk mas de
outras fontes de conhecimento como livros de gramática tradicional e manuais de
sintaxe.
Os tópicos aqui abordados foram
desenvolvidos de maneira a permitir que nós, alunos do 4° semestre, pudéssemos
refletir sobre a morfossintaxe de maneira crítica e facilitada, fazendo assim
com que praticássemos o que seria o objetivo deste resumo aplicado à sala de
aula na prática pedagógica futura: estudar a língua portuguesa de maneira
reflexiva.
A
cada sintagma verbal temos uma oração. Desse modo, quando o período é
constituído de uma oração, denomina-se período simples, a partir de duas (ou
mais) orações, há um período composto. Neste, existem dois processos de relação
sintática, a coordenação e a subordinação, os quais serão estudados
posteriormente.
Vimos também que, na hierarquia
gramatical, os constituintes de uma oração são os sintagmas. Estes assumem
funções sintáticas na oração, conforme a relação que se estabelece entre esses
sintagmas. Ao analisarmos sintaticamente uma oração, os dois constituintes
imediatos que se identificam são o sujeito e o predicado.
Assim, temos:
O
S P
A mãe /abriu a porta.
Devemos lembrar, ainda, que o padrão
sintático em Língua Portuguesa é:
S V
C
|
OU SEJA:
Sujeito + Verbo + Complemento.
A posição S, quando preenchida, será
ocupada por um sintagma que tem a função de sujeito da oração, enquanto a posição V corresponde ao sintagma
verbal, imprescindível em toda oração. Quanto à posição C, diz respeito ao
sintagma que representa o complemento da oração.
Vejamos um exemplo:
Todos os presentes aplaudiram o orador.
S V C
Há orações em que as posições S e C podem
estar ausentes:
ø chegaram ø
Então, concluímos que podemos ter oração
sem sujeito e sem complemento, mas sempre haverá um sintagma verbal, que é a
base de uma oração.
Lembremos que será a relação sintática
entre os termos que determinará a função de cada um na oração. E como sintaxe é
“ordem, disposição, relação”, esta implicará na organização e conseqüente
função dos sintagmas na oração.
SUJEITO
A gramática tradicional normalmente
refere-se ao sujeito como “um termo essencial na oração”. Essa definição
pressupõe valor semântico e, como acabamos de verificar, há orações em que o
sujeito pode estar ausente, por isso questionamos como ele pode ser um termo
essencial.
Há também alguns gramáticos que utilizam o
método de se perguntar “quem” ou “o que” para se descobrir o sujeito da oração.
No entanto, podemos obter como resposta o objeto (e não o sujeito) dessa
oração.
Partindo do princípio de que o sujeito é
uma noção gramatical e, portanto, enquanto sintagma, articula-se ao verbo da
oração, concordando com ele em tempo/modo, número/pessoa, sugerimos a
metodologia adotada por Sautchuk (2004) em seu manual didático.
Primeiramente, a autora ressalta a
natureza substantiva do sujeito, visto que é sempre representado por um
sintagma nominal. Em seguida, destaca a posição primeira na estrutura S V C.
Essas duas características morfossintáticas são essenciais para um
reconhecimento prévio do sujeito na oração.
Veja, em:
O pai encontrou o filho.
Na posição S, temos “o pai” e na posição
C, “o filho”. Se invertêssemos os sintagmas, obeteríamos “O filho encontrou o
pai”, em que na posição S passamos a ter “o filho” e na posição C, “o pai”.
Assim, uma primeira caracterização do
sujeito é a de “todo termo da oração (não preposicionado) que puder ser
substituído por um pronome reto ele(s), ela(s)”(Sautchuk, 2004: 59).
Retomando o exemplo dado anteriormente,
vejamos essas características.
No primeiro exemplo, temos S= O pai;
V=encontrou; C= o filho. Na estrutura SVC, de acordo com a gramática normativa,
apenas a posição S pode ser substituída por um pronome pessoal reto, ao passo
que a posição C deve ser substituída por um pronome pessoal oblíquo. Assim,
poderíamos obter: Ele encontrou-o (ou Ele o encontrou).
Veja que utilizando o mesmo procedimento
no segundo exemplo, o pronome pessoal reto “ele” passa a substituir “o filho”,
enquanto o pronome pessoal oblíquo substitui “o pai”, devido à inversão dos
sintagmas.
Para completar sua metodologia de
identificação do sujeito, a autora propõe também a transformação do enunciado
em uma pergunta hipotética, para a qual a resposta completa indicará o sujeito.
No exemplo “O pai encontrou o filho”, transformando
a oração em uma pergunta “O pai encontrou o filho?”, obtemos a resposta “Sim,
ele encontrou o filho.” Veja que o sintagma substituído pelo pronome pessoal
reto “ele” na resposta corresponde a “o pai”, portanto este é o sujeito da
oração.
Todavia, nem sempre as orações
encontram-se na ordem direta (SVC). Então, vejamos mais alguns exemplos para
compreendermos esse método.
(1) Chegou uma senhora de blusa vermelha. (?)
Sim, ela chegou.
(2) Na multidão, meu amigo encontrou o irmão. (?)
Sim, ele o encontrou.
Veja que no exemplo (1), o sintagma “uma
senhora de blusa vermelha” foi substituído pelo pronome reto “ela”, então esse
sintagma corresponde ao sujeito da oração.
Já no exemplo (2) substituímos dois
sintagmas por pronomes, mas o que foi substituído pelo pronome pessoal reto foi
“meu amigo”, portanto este é o sujeito da oração. O sintagma “o irmão” foi
substituído pelo pronome pessoal oblíquo “o”, visto que ocupa a posição C na
oração.
Há casos em que o sujeito não pode ser
substituído pelo pronome ele(s)/ela(s). Nesses casos, a sugestão é de que se
substitua o sintagma pelo pronome demonstrativo “isso”.
Vejamos um exemplo:
(3) Ontem tudo parecia terminado. (?)
Sim, ontem “isso” parecia terminado.
No exemplo (3), o pronome é indefinido,
por isso talvez fique melhor substituí-lo pelo demonstrativo neutro “isso”.
É o caso de verbo substantivado, como no
exemplo:
(4) Comer é bom para a saúde.(?)
Sim, isso é bom para a saúde.
As gramáticas geralmente classificam o
sujeito em simples, composto, oculto
(ou elíptico), indeterminado e inexistente (ou
oração sem sujeito). Passemos,então,
a tratar dessa classificação.
A) SUJEITO SIMPLES (SS)
Usando o método prático de identificação
do sujeito, apresentado anteriormente, classificaremos o sujeito como simples,
quando este for representado por um sintagma nominal que tenha um só núcleo, o
qual pode ser substituído por um pronome reto:
(5) Sumiu da gaveta uma blusa amarela.
(6) Morreram as rosas do jardim.
No exemplo (5), substituímos o sintagma
“uma blusa amarela”, cujo núcleo é “blusa”, pelo pronome pessoal reto “ela”.
Então, podemos classificar o sujeito “uma blusa amarela” como simples (SS).
O mesmo ocorre no exemplo (6), em que o
sintagma “as rosas do jardim”, cujo núcleo é “rosas”, deve ser substituído pelo
pronome “elas”. Embora o pronome esteja no plural, há apenas um núcleo,
portanto a classificação do sujeito é simples. Essa classificação está relacionada
ao núcleo do sujeito e não à forma singular ou plural do sintagma.
B) SUJEITO COMPOSTO (SC)
No caso do sujeito composto, trocam-se
dois ou mais sintagmas nominais (com respectivos núcleos substantivos) por um
só pronome pessoal reto;
(7) Sumiram da gaveta as blusas vermelhas e a calça
azul. (?)
Sim, eles sumiram.
Veja que no exemplo (7), o pronome “eles”
está substituindo os sintagmas “as blusas vermelhas” e “a calça azul”, cujos
núcleos são “blusas” e “calça”.
C) SUJEITO OCULTO (SO)
O sujeito oculto (ou elíptico ou desinencial) não
está expresso em um sintagma nominal na oração, mas encontra-se marcado na
própria desinência verbal. Nesse caso, o método não é substituir nenhum
sintagma nominal por pronome e, sim, acrescentar um pronome reto à oração,
pronome este que se articula ao verbo.
(8) Chegamos ao final. (?)
Sim, nós chegamos ao final.
(9) Encontraste o seu livro. (?)
Sim, tu encontraste o livro.
Veja que no exemplo (8) o pronome que se
articula ao verbo da oração é “nós” e a desinência que marca 1ª pessoa do
plural (nós) no verbo é -“mos”.
O mesmo ocorre no exemplo (9), cuja
desinência –ste marca segunda pessoa do singular, tu.
Nos dois casos, o sujeito não se encontra
expresso na oração, por isso ele recebe essa classificação de oculto (ou
elíptico ou desinencial).
Quando há terceira pessoa (do singular ou
do plural), em português é uma forma de indeterminação do sujeito, como veremos
adiante. No entanto, se as orações
estiverem articuladas entre si e houver expressão anterior do sujeito, este
pode ser classificado como oculto.
(10) Encontraram meu caderno na sala. Estava todo
rasgado.
(11) Sumiram minhas anotações do computador, mas não
eram importantes.
No exemplo (10), podemos
considerar sujeito oculto na segunda oração, cuja desinência verbal é marcada
pela ausência, isto é, por ø. Já no exemplo (11), a marca de terceira pessoa do
plural – m não representa um sujeito simples, visto que na segunda, pela elipse
(ø) do sujeito, essa marca significa a referência ao sintagma “minhas
anotações”, expresso na oração anterior.
D) SUJEITO INDETERMINADO (SI)
Há oração com sujeito
indeterminado quando o verbo encontra-se na terceira pessoa do plural ou na
terceira pessoa do singular acompanhado da partícula –se, sem referência a
nenhum outro sintagma expresso anteriormente. Nesse caso, a intenção é manter
desconhecida a identidade do sujeito.
Seguindo o método de substituição do sintagma pelo
pronome, essas orações admitem o acréscimo de duas ou mais variações de um
pronome reto de 3ª pessoa.
(12) Disseram a verdade. (?)
Sim, (eles/ elas/ vocês)
disseram a verdade.
(13) Necessita-se de um esclarecimento. (?)
Sim, (ele/ ela/ você)
necessita de um esclarecimento.
Tanto no exemplo (12) como no
exemplo (13), o sujeito é indeterminado, pois no primeiro caso, o verbo
“disseram” não faz referência a nenhum sintagma anterior à variação do pronome de terceira pessoa,
ocorrendo o mesmo com o verbo do segundo exemplo. A diferença é que no exemplo
(14) o verbo encontra-se na 3ª pessoa do singular acompanhado do pronome “se”.
São duas formas de se indeterminar o sujeito.
Entretanto, é preciso atentar
para essa construção com a partícula –se e o verbo na 3ª pessoa do singular,
pois há casos em que ela representa o verbo na voz passiva.
(14) Encontraram-se os objetos perdidos na casa. (?)
Sim, os objetos perdidos
foram encontrados na casa.
(Sim, eles foram encontrados
na casa)
Veja que no exemplo (14) a
oração que se encontra na voz passiva sintética pode ser transformada em voz
passiva analítica, o que não ocorre no exemplo (13). Quando a oração
encontra-se na voz passiva, nesses casos, o verbo da oração é transitivo direto
(o que estudaremos posteriormente). Portanto, o sujeito dessa oração (14) é “os
objetos da casa”, sintagma que pôde ser substituído pelo pronome “eles”. Então,
o sujeito é simples (SS) e não indeterminado, como no caso da oração do exemplo
(13).
E) ORAÇÃO SEM SUJEITO ou SUJEITO
INEXISTENTE
Nas construções em que o
sujeito encontra-se ausente e não há indícios de sua presença, como a marca na
desinência verbal, por exemplo, este é considerado inexistente.
(15) Fez calor durante todo o dia. (?)
Sim, fez
calor durante todo o dia.
(16) Houve muitas reclamações. (?)
Sim, houve muitas
reclamações.
Veja que, aplicando o método
de transformar a oração em pergunta, tanto no exemplo (15) quanto no exemplo
(16), como o verbo é impessoal, ou seja, não há conjugação para eles,não
podemos substituir nenhum sintagma por um pronome pessoal reto.
Isso ocorre com verbos que
normalmente indicam fenômenos naturais e com o verbo haver (no sentido de
existir), visto que eles não se flexionam por serem impessoais.
PREDICADO E COMPLEMENTOS VERBAIS.
Os dois constituintes
imediatos da oração são o sujeito e o predicado e como já falamos sobre o
sujeito, vejamos, então, o predicado. Este, na organização sintática de uma oração,
diz respeito ao que não faz parte do sujeito.
Embora não haja uma posição
definida entre muitos gramáticos com relação ao sintagma verbal , entendemos
que ele compõe o predicado.
Nesse sentido, Azeredo (2001:
52) afirma:
(...)Pensamos ser mais
conveniente falar em subordinação do objeto, não ao verbo que o rege, mas ao
conjunto a que verbo e objeto pertencem: o SV predicado. Com efeito, o verbo
transitivo (ou intransitivo) não é o predicado – função exercida pelo SV – mas
constituinte dele, seu núcleo, e o objeto outro constituinte, porém
subordinado.
Verificamos, então, que o “SV
predicado”, como denomina o autor, pode ser constituído de um verbo sem
complemento obrigatório ou de um verbo
que exija complemento obrigatório, o que fará parte desse sintagma, que, por
sua vez, constitui o predicado da oração.
(17) O chefe do departamento resolveu o problema.
No exemplo (17), ao
identificarmos os constituintes da oração, temos “o chefe do departamento” como
sujeito e “resolveu o problema” como predicado. Neste último, observemos que o
verbo é “resolveu” e ele exige um complemento,no caso, “o problema”. Assim,
ilustramos o conceito de SV predicado proposto por Azeredo, em que o verbo pode
se encontrar acrescido de um complemento obrigatório (como no exemplo) ou de um
adjunto (que não é um complemento obrigatório).
A predicação está ligada ao
comportamento dos verbos em seu interior. Por isso, há gramáticas que
classificam o predicado conforme o tipo de verbo. Para a caracterização desses
verbos, todavia, torna-se necessário levar em conta sua carga semântica na
oração.
Nesse sentido, segundo
Sautchuk (2004), há verbos que têm 100% de carga semântica, como há os que
apresentam 0% dessa carga. Nessa equivalência, temos os verbos denominados intransitivos (não necessitam de
complemento) e os de ligação (sem carga semântica). Ainda há os verbos que
exigem um complemento, portanto não têm 100% de carga semântica, mas também não
são apenas de ligação. Estes denominam-se transitivos.
Os verbos transitivos, de
acordo com sua regência (com ou sem preposição), pode ser classificado em
transitivo indireto ou transitivo direto. O primeiro grupo relaciona-se aos
verbos que são regidos de preposição, já o segundo grupo está relacionado aos
verbos não regidos de preposição.
(18) As pessoas precisam de um esclarecimento.
(19) As pessoas exigem um esclarecimento.
Entre os exemplos (18) e
(19), a diferença está na regência do verbo. No primeiro, o verbo é regido da
preposição “de”, portanto um verbo transitivo indireto, o que não ocorre no
segundo exemplo, em que, inversamente, o verbo não é regido de preposição, por
isso um verbo transitivo direto. Os complementos para esses verbos são
denominados objeto indireto e objeto direto, respectivamente.
Em ambos exemplos, o verbo
não tem 100% de carga semântica, seu sentido
termina no complemento, o qual é chamado de objeto (indireto para o
primeiro exemplo e direto para o segundo).
Ressaltamos que pode ocorrer
do verbo transitivo vir acompanhado dos dois tipos de complemento obrigatório,
o objeto direto e o objeto indireto. Nesse caso, ele será classificado como
transitivo direto e indireto. Veja no exemplo a seguir.
(20) A namorada recebeu flores do namorado.
No exemplo (20) o verbo
“recebeu” tem como complementos “flores” e “do namorado”, portanto os dois
tipos de complemento, um não regido de preposição (objeto direto) e outro
regido de preposição (objeto indireto). Daí a classificação do verbo em
transitivo direto e indireto.
O verbo que tem 100% de carga
semântica, como já fora dito, não é acompanhado de complemento obrigatório
(objeto), mas pode vir acompanhado de complemento não obrigatório, um adjunto.
(21) Todos os presentes saíram logo da reunião.
No exemplo (21), o verbo
“saíram” não exige complemento, pois o sentido está completo. Entretanto, os
sintagmas “logo” e “da reunião” indicam, respectivamente, circunstâncias de
tempo e de lugar. Essas circunstâncias são representadas por sintagmas que têm
a função de adjunto adverbial, pois modificam o verbo, que representa a
ação. A classificação desse verbo é de
intransitivo.
As gramáticas que dão
classificação ao predicado, consideram esses casos, em que o verbo é transitivo
ou intransitivo, como predicado verbal, uma vez que o verbo tem carga semântica
(completa ou incompleta) e, por isso, torna-se o núcleo desse predicado. Daí a
classificação como predicado verbal.
Quanto aos verbos que têm 0% de carga semântica, estes são considerados
meros relatores, isto é, exercem a função de relacionar/ligar o sujeito a um
outro sintagma, o qual geralmente tem a função de modificar o sujeito. A esse
tipo de predicado, as gramáticas dão a classificação de predicado nominal.
(22) Os vencedores estavam felizes.
No exemplo (22), o verbo
“estavam” não tem carga semântica, ele cumpre a função de relacionar o sujeito
“os vencedores” a “felizes”, que tem a função de modificar o sujeito, dando-lhe
uma característica. Portanto, o verbo é
vazio de sentido e classifica-se como verbo de ligação. O complemento desse
tipo de verbo, o de ligação, também se torna obrigatório e é classificado como
predicativo do sujeito (P.S.)
Há gramáticas que oferecem
uma lista de verbo de ligação, mas memorizar essa lista pode não ser eficaz,
visto que, de acordo com o contexto, um verbo que seria de ligação pode deixar
de ser.
(23) Os convidados estavam na sala.
Todavia, o exemplo (23) gera
polêmica em sua classificação. Podemos afirmar que não é um verbo de ligação
por não estar relacionando apenas o sujeito a uma característica sua.
No entanto, a gramática
tradicional classifica esse verbo como intransitivo, o que gera dúvida, porque
seu sentido não parece encerrar-se no verbo. Na construção sintática dessa
oração, o sentido do verbo parece terminar em seu adjunto adverbial “na sala”. Para tanto, Sautchuk propõe uma nova
classificação. Como o verbo termina seu sentido no adjunto adverbial, a autora
sugere que ele seja classificado como “transadverbial”. Essa classificação parece-nos
coerente.
Verbo Intransitivo (V.I) = verbo com 100% de carga semântica.
Verbo Transitivo = verbo com sentido incompleto.
Verbo Transitivo Direto (V.T.D.) = verbo com sentido incompleto,
acompanhado de complemento (O.D.), sem
preposição.
Verbo Transitivo Indireto (V.T.I.)= verbo com sentido incompleto,
acompanhado de complemento (O.I), com
preposição.
Verbo de Ligação (V.L) = verbo com 0% de carga semântica.
SV predicado = sintagma verbal que compõe o sintagma. Pode ter verbo
intransitivo ou verbo transitivo
|
A) CARACTERÍSTICAS MORFOSSINTÁTICAS DOS
COMPLEMENTOS VERBAIS.
Acabamos de ver os complementos
obrigatórios do verbo, ou seja, os objetos – direto e indireto – e o
predicativo do sujeito. Os primeiros articulam-se a um verbo transitivo, cujo
sentido é incompleto e exige o complemento, regido ou não de preposição. Já o
segundo, o predicativo do sujeito, articula-se ao verbo de ligação,
complementando o predicado, visto que esse tipo de verbo apenas relaciona o sujeito
ao seu complemento.
Veremos, então, algumas características
morfossintáticas desses complementos, a fim de facilitar a identificação desses
elementos na oração. Depois veremos outros complementos verbais, ou seja, os
complementos não obrigatórios que também podem ocorrer na oração.
Assim como apresentamos o método prático
para localizar o sujeito na oração, sugerido por Sautchuk, veremos que o objeto direto (O.D.) também apresenta peculiaridades que possibilitam sua
identificação.
A primeira delas é que a natureza
morfológica do O.D. é substantiva, isto é, ele é representado por um sintagma
nominal. Este pode ser substituído por um pronome pessoal (assim como o
sujeito), mas por ocupar a posição C (na estrutura SVC), dever ser substituído
por um pronome pessoal oblíquo.
(24) O povo perdeu a esperança. (?)
Sim, o povo perdeu-a.
Veja que utilizando o método de
transformar a oração em pergunta e, ao respondê-la, substituir o sintagma pelo
pronome pessoal, o sintagma “a esperança” foi trocado por “a”, uma vez que
ocupa a posição C e, portanto, é o objeto da oração. De acordo com a norma
culta, pronome pessoal reto não pode ocupar a posição C, então não poderia ser
“Sim, o povo perdeu ela.” Esse tipo
de pronome apenas pode ocupar a posição S (de sujeito).
Outra característica importante para
identificar o objeto direto é que o sintagma nominal que o representa é autônomo (e não interno). Além
disso, o pronome oblíquo que pode substituí-lo deve concordar em gênero/número
com o núcleo do objeto.
Outro método sugerido pela autora para
confirmar se o termo analisado é objeto direto é o de transformar a oração em
voz passiva. Assim, veremos que o objeto é um “sujeito disfarçado”.
(25) O povo perdeu a esperança./ A esperança foi perdida
pelo povo.
No exemplo (25), ao passarmos a oração
para a voz passiva, o objeto direto (na voz ativa) torna-se sujeito da oração
(na voz passiva). Por isso, dizemos que o objeto é um “sujeito disfarçado”.
Quanto ao objeto indireto (O.I.),
este é representado por um sintagma preposicionado (o que pode confundi-lo com
o adjunto adverbial) e é obrigatório na oração. Pode ser também substituído por
um pronome oblíquo – lhe(s) – principalmente quando regido por preposição “a”.
As preposições mais comuns como introdutórias desse tipo de sintagma são “em,
a, para, de, com, por”.
Como pode ser confundido como adjunto adverbial, ressaltamos que
este, apesar de ser também representado por um sintagma preposicionado, não é
obrigatório na oração, mas acessório, ao passo que o O.I. é obrigatório.
(26) Sugeri ao menino um banho.
(27) Sairemos ao amanhecer.
Em (27) o sintagma preposicionado “ao
menino” é complemento obrigatório do verbo e, portanto, objeto indireto. Já no
exemplo (27), o sintagma “ao amanhecer”, embora seja preposicionado, não é
obrigatório, pois o verbo já tem 100% de carga semântica, por isso tem a função
de adjunto adverbial, uma vez que se trata de uma circunstância de tempo que
modifica o verbo.
O predicativo do sujeito (P.S.), enquanto
complemento obrigatório, articula-se a um verbo de ligação. Todavia, esse tipo
de complemento pode ocorrer com verbos que não sejam de ligação, como um
complemento acidental na oração.
(28) Os meninos pareciam agitados.
(29) Os meninos chegaram agitados.
Na oração do exemplo (28), o sintagma que
corresponde ao predicativo do sujeito,
“agitados” (de natureza adjetiva), é obrigatório, tendo em vista o verbo
“pareciam” ser de ligação. Já em (29), o verbo “chegaram” é intransitivo, o que
torna o predicativo acidental, circunstancial e não obrigatório.
As gramáticas tradicionais, inclusive,
classificam esse tipo de predicado (que apresenta verbo intransitivo/transitivo
e predicativo do sujeito) como predicado verbo-nominal, pelo fato de apresentar
um verbo significativo, que é núcleo do predicado verbal, e um outro sintagma
que corresponderia ao núcleo do predicado nominal (segundo o ponto de vista da
gramática tradicional).
Não vamos, entretanto, ater-nos a essa
classificação do predicado. O importante é entendermos a articulação dos verbos
que se encontram no interior dele.
Retomando o predicativo do sujeito,
verificamos que o sintagma que corresponde a ele também é autônomo (e não
interno) e por ser de natureza adjetiva, normalmente é representado por um
sintagma adjetival, o que não impede que seja representado por outro tipo de
sintagma (nominal, por exemplo), mas que tenha característica adjetiva.
(30) A festa foi horrível.
(31) A festa foi um fracasso.
Em (30), o sintagma que representa o
predicativo do sujeito – “horrível” – é adjetival. No entanto, em (31), o
sintagma “um fracasso” é nominal, mas equivale a um adjetivo em relação ao
sujeito “A festa”.
Assim como predicativo do sujeito, pode
haver predicativo do objeto (P.O.) na
oração. Este tem as mesmas características do predicativo do sujeito, com a
diferença de articular-se ao objeto e não ao sujeito.
Os verbos que apresentam esse tipo de
predicação são denominados “transobjetivos” por Sautchuk (2004). São eles: eleger, encontrar, julgar, nomear,
considerar, proclamar, achar.
(32) Considero esse garoto um chato.
Veja que no exemplo (32), o sintagma “um
chato” é um sintagma autônomo, de natureza adjetiva, mas se refere ao objeto
direto “esse garoto” e não ao sujeito da oração, que está oculto (eu).
Portanto, esse sintagma representa o predicativo do objeto e não o predicativo
do sujeito.
FUNÇÃO SINTÁTICA DOS SINTAGMAS AUTÔNOMOS E
INTERNOS.
Retomando a classificação dos sintagmas em
autônomos ou internos, passamos a verificar as funções sintáticas (algumas já
apresentadas) desses sintagmas na oração.
Como já fora visto, os sintagmas autônomos
são os que podem ser deslocados no eixo sintagmático da oração, portanto,
podemos, a grosso modo, dizer que eles “têm vida própria”. É o que acontece com
sintagmas que têm a função de sujeito, de objeto (direto ou indireto), de
predicativo (do sujeito ou do objeto), de agente da passiva, de adjunto
adverbial, de aposto e de vocativo.
Quanto aos sintagmas internos, estes
encontram-se subordinados a outros sintagmas, visto que encontram-se dentro
deles e, por isso, não podem ser deslocados na oração. É o caso do adjunto
adnominal e do complemento nominal.
Dentre os autônomos, ainda não tratamos de
alguns, que serão apresentados a seguir, como o agente da passiva, o aposto e o
vocativo. Os demais encontram-se já descritos anteriormente.
Quando o oração encontra-se na voz
passiva, há um novo constituinte dessa oração, que se denomina agente da
passiva. Vejamos o exemplo que segue.
(33) O espetáculo foi apresentado pelo locutor.
No exemplo, temos como sujeito “o
espetáculo”. Todavia, essa oração encontra-se na voz passiva analítica, em que
a estrutura é: sujeito + verbo auxiliar + verbo principal na forma nominal
particípio + agente da passiva.
Portanto, o sintagma “pelo locutor” tem a
função de agente da passiva. As características desse sintagma são : sintagma
preposicionado, introduzido pela preposição por (pelo = per < por + o),
autônomo.
Vejamos, então, as funções de aposto e
vocativo dos sintagmas autônomos, as quais ainda não foram tratadas. Segundo a
gramática tradicional, esses termos são acessórios na oração.
O aposto
é representado, geralmente, por um sintagma de natureza substantiva e ele
tem a função de explicar, resumir ou desenvolver outro termo sintático já
existente na oração. Muitas vezes ele é confundido com o sujeito ou com o
predicativo do sujeito. Vejamos nos exemplos como ele pode apresentar-se.
(34) Brasília, a capital do Brasil, é uma cidade plana.
(35) Crianças, jovens, adultos, todos pareciam muito
irritados.
No exemplo (34), o sintagma que representa
o aposto é “a capital do Brasil”. Nessa oração, o sujeito é “Brasília”,
portanto o aposto está retomando o sujeito, seria dispensável, daí a sua
característica de termo acessório. O sintagma tem como núcleo “capital”,
portanto é de base morfológica substantiva e é autônomo, sendo destacado,
inclusive, pela pontuação.
Quanto ao exemplo (35), neste o termo
“todos” resume todos os outros que representam o sujeito “crianças, jovens,
adultos”. Ele seria também dispensável na oração. Assim como no exemplo
anterior, é um sintagma de natureza substantiva, autônomo e um complemento não
obrigatório na oração.
A natureza substantiva do sintagma que representa
o aposto é uma das características que o diferencia do predicativo do sujeito,
cujo sintagma é de natureza adjetiva.
Outro termo representado por sintagma
autônomo, porém não necessário em uma oração, é o vocativo. Esse termo tem por
função apenas invocar mesmo, chamar a atenção do interlocutor. O sintagma que o
representa é de natureza substantiva e, assim como o aposto, é destacado pela
pontuação, tornando- isolado na oração, por isso muitas vezes os dois termos
são confundidos em sua classificação. Vejamos um exemplo.
(36) Meu filho, seja forte nessa hora.
O sujeito no exemplo (36) encontra-se oculto e pode ser identificado
como “você”. Então, o sintagma “meu filho” representa a forma utilizada para
chamar a atenção do interlocutor, portanto trata-se do vocativo da oração, que
seria desnecessário na sua estrutura.
Tendo tratado dos sintagmas autônomos,
resta-nos tratar dos sintagmas internos que ainda não foram descritos, ou seja,
do adjunto adnominal e do complemento nominal.
Assim como o aposto e o vocativo, o adjunto adnominal é acessório, isto é,
embora seja um sintagma interno (está subordinado a outro sintagma), ele não é
um complemento obrigatório na oração.
Além disso, outra característica desse
termo é que, por ser um sintagma interno, está sempre preso a um núcleo
substantivo. Portanto, uma oração pode apresentar tantos adjuntos adnominais
quantos forem os núcleos substantivos.
Do ponto de vista morfológico, os adjuntos
adnominais são representados por determinantes ou modificadores do substantivo.
Vejamos exemplos.
(37) As duas meninas de azul oferecerem uma rosa à
mulher de preto.
Nesse exemplo (37), vamos, primeiramente,
isolar os sintagmas autônomos que tenham como núcleo substantivos. São eles:
(a) As duas meninas de azul
(b) uma rosa
(c) à mulher de preto
Em (a) o núcleo é “meninas”, portanto,
“as”, “duas” e “de azul” são adjuntos adnominais, pois o primeiro termo
determina o gênero e o número do substantivo, enquanto o segundo quantifica-o e
o terceiro modifica-o.
No sintagma (b), o núcleo é o substantivo
“rosa”, cujos gênero e número são determinados por “uma”, que representa o
adjunto adnominal.
E no sintagma (c ), para o núcleo
“mulher”, temos como adjuntos adnominas “a”- artigo (da contração prep. a +
artigo a) – lembrando que a preposição é
apenas um relator, não tem função sintática – e
o sintagma “de preto”, que tem a função de modificador do substantivo.
O complemento
nominal, embora seja também um sintagma interno, diferencia-se do adjunto
adnominal por ser um complemento obrigatório, semelhante aos complementos
verbais – objeto direto e objeto indireto.
Esse termo é sempre representado por um
sintagma preposicionado (interno) exigido para complementar o sentido de algum
termo da oração, que seja representado por um substantivo, adjetivo ou
advérbio, regidos de preposição.
Quando ele complementa um substantivo,
pode ser confundido como o adjunto adnominal. Por isso, nesse caso, o valor
semântico pode ser mais decisivo para a classificação de um ou outro.
Entretanto, uma característica acentuada é o complemento nominal ser uma
nominalização de um verbo transitivo, o que, todavia, não assegura a sua
classificação em casos polêmicos.
Vejamos alguns exemplos.
(38) O retorno dos amigos é sempre uma alegria.
(39) Você foi a salvação de todos.
(40) A saída do show foi tumultuada.
(41) Vamos ouvir a execução da sentença.
Nos exemplos anteriores, podemos
transformar os nomes em verbos: em (38), temos “os amigos retornaram”; em (39),
“todos se salvaram”; em (40), “saíram do show”; em (40), “a sentença
executou-se (ou foi executada)”. Então, em cada exemplo, respectivamente, os
complementos nominais são: “dos amigos”, “de todos”, “do show” e “da sentença”.
Organização sintagmática da oração simples e Sujeito
A cada
sintagma verbal temos uma oração. Desse modo, quando o período é constituído de
uma oração, denomina-se período simples, a partir de duas (ou mais) orações, há
um período composto. Neste, existem dois processos de relação sintática, a
coordenação e a subordinação, os quais serão estudados posteriormente.
Na hierarquia gramatical, os constituintes
de uma oração são os sintagmas. Estes assumem funções sintáticas na oração,
conforme a relação que se estabelece entre esses sintagmas. Ao analisarmos sintaticamente
uma oração, os dois constituintes imediatos que se identificam são o sujeito e
o predicado.
Devemos
lembrar, ainda, que o padrão sintático em Língua Portuguesa é:
S V
C
|
OU
SEJA:
Sujeito + Verbo +
Complemento.
A posição S, quando preenchida, será
ocupada por um sintagma que tem a função de sujeito da oração, enquanto a posição V corresponde ao sintagma
verbal, imprescindível em toda oração. Quanto à posição C, diz respeito ao sintagma
que representa o complemento da oração.
Vejamos um exemplo:
Todos os presentes aplaudiram o orador.
S V C
Há orações em que as posições S e C podem
estar ausentes:
ø chegaram ø
Então, concluímos que podemos ter oração
sem sujeito e sem complemento, mas sempre haverá um sintagma verbal, que é a
base de uma oração.
Lembremos que será a relação sintática
entre os termos que determinará a função de cada um na oração. E como sintaxe é
“ordem, disposição, relação”, esta implicará na organização e conseqüente
função dos sintagmas na oração.
SUJEITO
A gramática tradicional normalmente
refere-se ao sujeito como “um termo essencial na oração”. Essa definição
pressupõe valor semântico e, como acabamos de verificar, há orações em que o
sujeito pode estar ausente, por isso questionamos como ele pode ser um termo
essencial.
Há também alguns gramáticos que utilizam o
método de se perguntar “quem” ou “o que” para se descobrir o sujeito da oração.
No entanto, podemos obter como resposta o objeto (e não o sujeito) dessa
oração.
Partindo do princípio de que o sujeito é
uma noção gramatical e, portanto, enquanto sintagma, articula-se ao verbo da
oração, concordando com ele em tempo/modo, número/pessoa, sugerimos a
metodologia adotada por Sautchuk (2004) em seu manual didático.
Primeiramente, a autora ressalta a
natureza substantiva do sujeito, visto que é sempre representado por um
sintagma nominal. Em seguida, destaca a posição primeira na estrutura S V C.
Essas duas características morfossintáticas são essenciais para um
reconhecimento prévio do sujeito na oração.
Veja, em:
O pai encontrou o filho.
Na posição S, temos “o pai” e na posição
C, “o filho”. Se invertêssemos os sintagmas, obeteríamos “O filho encontrou o
pai”, em que na posição S passamos a ter “o filho” e na posição C, “o pai”.
Assim, uma primeira caracterização do
sujeito é a de “todo termo da oração (não preposicionado) que puder ser
substituído por um pronome reto ele(s), ela(s)”(Sautchuk, 2004: 59).
Retomando o exemplo dado anteriormente,
vejamos essas características.
No primeiro exemplo, temos S= O pai;
V=encontrou; C= o filho. Na estrutura SVC, de acordo com a gramática normativa,
apenas a posição S pode ser substituída por um pronome pessoal reto, ao passo
que a posição C deve ser substituída por um pronome pessoal oblíquo. Assim,
poderíamos obter: Ele encontrou-o (ou Ele o encontrou).
Veja que utilizando o mesmo procedimento
no segundo exemplo, o pronome pessoal reto “ele” passa a substituir “o filho”,
enquanto o pronome pessoal oblíquo substitui “o pai”, devido à inversão dos
sintagmas.
Para completar sua metodologia de identificação
do sujeito, a autora propõe também a transformação do enunciado em uma pergunta
hipotética, para a qual a resposta completa indicará o sujeito.
No exemplo “O pai encontrou o filho”,
transformando a oração em uma pergunta “O pai encontrou o filho?”, obtemos a
resposta “Sim, ele encontrou o filho.” Veja que o sintagma substituído pelo
pronome pessoal reto “ele” na resposta corresponde a “o pai”, portanto este é o
sujeito da oração.
Todavia, nem sempre as orações
encontram-se na ordem direta (SVC). Então, vejamos mais alguns exemplos para
compreendermos esse método.
(1) Chegou uma senhora de blusa vermelha. (?)
Sim, ela chegou.
(2) Na multidão, meu amigo encontrou o irmão. (?)
Sim, ele o encontrou.
Veja que no exemplo (1), o sintagma “uma
senhora de blusa vermelha” foi substituído pelo pronome reto “ela”, então esse
sintagma corresponde ao sujeito da oração.
Já no exemplo (2) substituímos dois
sintagmas por pronomes, mas o que foi substituído pelo pronome pessoal reto foi
“meu amigo”, portanto este é o sujeito da oração. O sintagma “o irmão” foi
substituído pelo pronome pessoal oblíquo “o”, visto que ocupa a posição C na
oração.
Há casos em que o sujeito não pode ser
substituído pelo pronome ele(s)/ela(s). Nesses casos, a sugestão é de que se
substitua o sintagma pelo pronome demonstrativo “isso”.
Vejamos um exemplo:
(3) Ontem tudo parecia terminado. (?)
Sim, ontem “isso” parecia terminado.
No exemplo (3), o pronome é indefinido,
por isso talvez fique melhor substituí-lo pelo demonstrativo neutro “isso”.
É o caso de verbo substantivado, como no
exemplo:
(4) Comer é bom para a saúde.(?)
Sim, isso é bom para a saúde.
As gramáticas geralmente classificam o
sujeito em simples, composto, oculto
(ou elíptico), indeterminado e inexistente (ou
oração sem sujeito). Passemos,então,
a tratar dessa classificação.
A) SUJEITO SIMPLES (SS)
Usando o método prático de identificação
do sujeito, apresentado anteriormente, classificaremos o sujeito como simples,
quando este for representado por um sintagma nominal que tenha um só núcleo, o
qual pode ser substituído por um pronome reto:
(5) Sumiu da gaveta uma blusa amarela.
(6) Morreram as rosas do jardim.
No exemplo (5), substituímos o sintagma
“uma blusa amarela”, cujo núcleo é “blusa”, pelo pronome pessoal reto “ela”.
Então, podemos classificar o sujeito “uma blusa amarela” como simples (SS).
O mesmo ocorre no exemplo (6), em que o
sintagma “as rosas do jardim”, cujo núcleo é “rosas”, deve ser substituído pelo
pronome “elas”. Embora o pronome esteja no plural, há apenas um núcleo,
portanto a classificação do sujeito é simples. Essa classificação está
relacionada ao núcleo do sujeito e não à forma singular ou plural do sintagma.
B) SUJEITO COMPOSTO (SC)
No caso do sujeito composto, trocam-se
dois ou mais sintagmas nominais (com respectivos núcleos substantivos) por um
só pronome pessoal reto;
(7) Sumiram da gaveta as blusas vermelhas e a calça
azul. (?)
Sim, eles sumiram.
Veja que no exemplo (7), o pronome “eles”
está substituindo os sintagmas “as blusas vermelhas” e “a calça azul”, cujos
núcleos são “blusas” e “calça”.
C) SUJEITO OCULTO (SO)
O sujeito oculto (ou elíptico ou desinencial) não
está expresso em um sintagma nominal na oração, mas encontra-se marcado na
própria desinência verbal. Nesse caso, o método não é substituir nenhum
sintagma nominal por pronome e, sim, acrescentar um pronome reto à oração,
pronome este que se articula ao verbo.
(8) Chegamos ao final. (?)
Sim, nós chegamos ao final.
(9) Encontraste o seu livro. (?)
Sim, tu encontraste o livro.
Veja que no exemplo (8) o pronome que se
articula ao verbo da oração é “nós” e a desinência que marca 1ª pessoa do
plural (nós) no verbo é -“mos”.
O mesmo ocorre no exemplo (9), cuja
desinência –ste marca segunda pessoa do singular, tu.
Nos dois casos, o sujeito não se encontra
expresso na oração, por isso ele recebe essa classificação de oculto (ou
elíptico ou desinencial).
Quando há terceira pessoa (do singular ou
do plural), em português é uma forma de indeterminação do sujeito, como veremos
adiante. No entanto, se as orações
estiverem articuladas entre si e houver expressão anterior do sujeito, este
pode ser classificado como oculto.
(10) Encontraram meu caderno na sala. Estava todo
rasgado.
(11) Sumiram minhas anotações do computador, mas não
eram importantes.
No exemplo (10), podemos
considerar sujeito oculto na segunda oração, cuja desinência verbal é marcada
pela ausência, isto é, por ø. Já no exemplo (11), a marca de terceira pessoa do
plural – m não representa um sujeito simples, visto que na segunda, pela elipse
(ø) do sujeito, essa marca significa a referência ao sintagma “minhas
anotações”, expresso na oração anterior.
D) SUJEITO INDETERMINADO (SI)
Há oração com sujeito
indeterminado quando o verbo encontra-se na terceira pessoa do plural ou na
terceira pessoa do singular acompanhado da partícula –se, sem referência a
nenhum outro sintagma expresso anteriormente. Nesse caso, a intenção é manter
desconhecida a identidade do sujeito.
Seguindo o método de substituição do sintagma pelo
pronome, essas orações admitem o acréscimo de duas ou mais variações de um
pronome reto de 3ª pessoa.
(12) Disseram a verdade. (?)
Sim, (eles/ elas/ vocês)
disseram a verdade.
(13) Necessita-se de um esclarecimento. (?)
Sim, (ele/ ela/ você)
necessita de um esclarecimento.
Tanto no exemplo (12) como no
exemplo (13), o sujeito é indeterminado, pois no primeiro caso, o verbo “disseram”
não faz referência a nenhum sintagma anterior
à variação do pronome de terceira pessoa, ocorrendo o mesmo com o verbo
do segundo exemplo. A diferença é que no exemplo (14) o verbo encontra-se na 3ª
pessoa do singular acompanhado do pronome “se”. São duas formas de se
indeterminar o sujeito.
Entretanto, é preciso atentar
para essa construção com a partícula –se e o verbo na 3ª pessoa do singular,
pois há casos em que ela representa o verbo na voz passiva.
(14) Encontraram-se os objetos perdidos na casa. (?)
Sim, os objetos perdidos
foram encontrados na casa.
(Sim, eles foram encontrados
na casa)
Veja que no exemplo (14) a
oração que se encontra na voz passiva sintética pode ser transformada em voz
passiva analítica, o que não ocorre no exemplo (13). Quando a oração
encontra-se na voz passiva, nesses casos, o verbo da oração é transitivo direto
(o que estudaremos posteriormente). Portanto, o sujeito dessa oração (14) é “os
objetos da casa”, sintagma que pôde ser substituído pelo pronome “eles”. Então,
o sujeito é simples (SS) e não indeterminado, como no caso da oração do exemplo
(13).
E) ORAÇÃO SEM SUJEITO ou SUJEITO
INEXISTENTE
Nas construções em que o
sujeito encontra-se ausente e não há indícios de sua presença, como a marca na
desinência verbal, por exemplo, este é considerado inexistente.
(15) Fez calor durante todo o dia. (?)
Sim, fez
calor durante todo o dia.
(16) Houve muitas reclamações. (?)
Sim, houve muitas
reclamações.
Veja que, aplicando o método
de transformar a oração em pergunta, tanto no exemplo (15) quanto no exemplo
(16), como o verbo é impessoal, ou seja, não há conjugação para eles,não
podemos substituir nenhum sintagma por um pronome pessoal reto.
Isso ocorre com verbos que normalmente
indicam fenômenos naturais e com o verbo haver (no sentido de existir), visto
que eles não se flexionam por serem impessoais.
Predicado e complementos
verbais
Predicado
e complementos verbais
Os dois
constituintes imediatos da oração são o sujeito e o predicado e como já falamos
sobre o sujeito, vejamos, então, o predicado. Este, na organização sintática de
uma oração, diz respeito ao que não faz parte do sujeito.
Embora
não haja uma posição definida entre muitos gramáticos com relação ao sintagma
verbal, entendemos que ele compõe o predicado.
Nesse
sentido, Azeredo (2001, p.52) afirma:
(...)Pensamos ser mais conveniente falar em subordinação do objeto, não
ao verbo que o rege, mas ao conjunto a que verbo e objeto pertencem: o SV
predicado. Com efeito, o verbo transitivo (ou intransitivo) não é o predicado –
função exercida pelo SV – mas constituinte dele, seu núcleo, e o objeto outro
constituinte, porém subordinado.
Verificamos,
então, que o “SV predicado”, como denomina o autor, pode ser constituído de um
verbo sem complemento obrigatório ou de um verbo que exija complemento
obrigatório, o que fará parte desse sintagma que, por sua vez, constitui o
predicado da oração.
(1) O chefe do departamento resolveu o problema.
No
exemplo (1), ao identificarmos os constituintes da oração, temos “o chefe do
departamento” como sujeito e “resolveu o problema” como predicado. Neste
último, observemos que o verbo é “resolveu” e ele exige um complemento, no
caso, “o problema”. Assim, ilustramos o conceito de SV predicado proposto por
Azeredo, em que o verbo pode se encontrar acrescido de um complemento
obrigatório (como no exemplo) ou de um adjunto (que não é um complemento
obrigatório).
A
predicação está ligada ao comportamento dos verbos em seu interior. Por isso,
há gramáticas que classificam o predicado conforme o tipo de verbo. Para a
caracterização desses verbos, todavia, torna-se necessário levar em conta sua
carga semântica na oração.
Nesse sentido, segundo Sautchuk (2004), há verbos que têm 100% de carga
semântica, como há os que apresentam 0% dessa carga. Nessa equivalência, temos
os verbos denominados intransitivos (não necessitam de complemento) e os de
ligação (sem carga semântica). Ainda há os verbos que exigem um complemento,
portanto não têm 100% de carga semântica, mas também não são apenas de ligação.
Estes se denominam transitivos.
Os verbos
transitivos, de acordo com suas regências (com ou sem preposição), podem ser
classificados em transitivos indiretos ou transitivos diretos. O primeiro grupo
relaciona-se aos verbos que são regidos de preposição, já o segundo grupo está
relacionado aos verbos não regidos de preposição.
(2) As
pessoas precisam de um esclarecimento.
(3) As
pessoas exigem um esclarecimento.
Entre os
exemplos (2) e (3), a diferença está na regência do verbo. No primeiro, o verbo
é regido da preposição “de”, portanto um verbo transitivo indireto, o que não
ocorre no segundo exemplo, em que, inversamente, o verbo não é regido de
preposição, por isso um verbo transitivo direto. Os complementos para esses
verbos são denominados objeto indireto e objeto direto, respectivamente.
Em ambos
exemplos, o verbo não tem 100% de carga semântica, seu sentido termina no
complemento, o qual é chamado de objeto (indireto para o primeiro exemplo e direto
para o segundo).
Ressaltamos
que pode ocorrer do verbo transitivo vir acompanhado dos dois tipos de
complemento obrigatório, o objeto direto e o objeto indireto. Nesse caso, ele
será classificado como transitivo direto e indireto. Veja no exemplo a seguir.
(4) A
namorada recebeu flores do namorado.
No
exemplo (4) o verbo “recebeu” tem como complementos “flores” e “do namorado”,
portanto os dois tipos de complemento, um não regido de preposição (objeto
direto) e outro regido de preposição (objeto indireto). Daí a classificação do
verbo em transitivo direto e indireto.
O verbo
que tem 100% de carga semântica, como já foi dito, não é acompanhado de
complemento obrigatório (objeto), mas pode vir acompanhado de complemento não
obrigatório, um adjunto.
(5) Todos
os presentes saíram logo da reunião.
No exemplo (5), o verbo “saíram” não exige complemento, pois o sentido
está completo. Entretanto, os sintagmas “logo” e “da reunião” indicam,
respectivamente, circunstâncias de tempo e de lugar. Essas circunstâncias são
representadas por sintagmas que têm a função de adjunto adverbial, pois
modificam o verbo, que representa a ação. A classificação desse verbo é de
intransitivo.
As gramáticas que dão classificação ao predicado, consideram esses casos, em que o verbo é transitivo ou
intransitivo, como predicado verbal, uma vez que o verbo tem carga semântica
(completa ou incompleta) e, por isso, torna-se o núcleo desse predicado. Daí a
classificação como predicado verbal.
Quanto
aos verbos que têm 0% de carga semântica, estes são considerados meros
relatores, isto é, exercem a função de relacionar/ligar o sujeito a um outro
sintagma, o qual geralmente tem a função de modificar o sujeito. A esse tipo de
predicado, as gramáticas dão a classificação de predicado nominal.
(6)
Os vencedores estavam felizes.
No
exemplo (6), o verbo “estavam” não tem carga semântica, ele cumpre a função de
relacionar o sujeito “os vencedores” a “felizes”, que tem a função de modificar
o sujeito, dando-lhe uma característica. Portanto, o verbo é vazio de sentido e
classifica-se como verbo de ligação. O complemento desse tipo de verbo, o de
ligação, também se torna obrigatório e é classificado como Predicativo do
Sujeito (PS).
Há
gramáticas que oferecem uma lista de verbo de ligação, mas memorizar essa lista
pode não ser eficaz, visto que, de acordo com o contexto, um verbo que seria de
ligação pode deixar de ser.
(7)
Os convidados estavam na sala.
Observemos que o exemplo (7) gera polêmica em sua classificação. Podemos
afirmar que não é um verbo de ligação por não estar relacionando apenas o
sujeito a uma característica sua.
No
entanto, a gramática tradicional classifica esse verbo como intransitivo, o que
gera dúvida, porque seu sentido não parece encerrar-se no verbo. Na construção
sintática dessa oração, o sentido do verbo parece terminar em seu adjunto
adverbial “na sala”. Para tanto, Sautchuk propõe uma nova classificação. Como o
verbo termina seu sentido no adjunto adverbial, a autora sugere que ele seja
classificado como “transadverbial”. Essa classificação parece-nos coerente.
Agora,
vamos novamente fazer uma parada para revisitarmos tudo o que foi exposto até
agora. Para tal, leia e reflita sobre o quadro acima.
Características
morfossintáticas dos complementos verbais
Acabamos de ver os complementos obrigatórios do
verbo, ou seja, os objetos – direto e indireto – e o predicativo do sujeito. Os
primeiros articulam-se a um verbo transitivo, cujo sentido é incompleto e exige
o complemento, regido ou não de preposição. Já o segundo, o predicativo do
sujeito, articula-se ao verbo de ligação, complementando o predicado, visto que
esse tipo de verbo apenas relaciona o sujeito ao seu complemento.
Veremos,
então, algumas características morfossintáticas desses complementos, a fim de
facilitar a identificação desses elementos na oração. Depois veremos outros
complementos verbais, ou seja, os complementos não obrigatórios que também
podem ocorrer na oração.
Assim
como apresentamos o método prático para localizar o sujeito na oração, sugerido
por Sautchuk, veremos que o Objeto Direto (OD) também apresenta
peculiaridades que possibilitam sua identificação.
A
primeira delas é que a natureza morfológica do OD é substantiva, isto é, ele é
representado por um sintagma nominal. Este pode ser substituído por um pronome
pessoal (assim como o sujeito), mas por ocupar a posição C (na estrutura SVC),
deve ser substituído por um pronome pessoal oblíquo.
(8)
O povo perdeu a esperança. (?)
Sim, o povo perdeu-a.
Veja que utilizando o método de transformar a oração em pergunta e, ao
respondê-la, substituir o sintagma pelo pronome pessoal, o sintagma “a
esperança” foi trocado por “a”, uma vez que ocupa a posição C e, portanto, é o
objeto da oração. De acordo com a norma culta, pronome pessoal reto não pode
ocupar a posição C, então não poderia ser: “Sim, o povo perdeu ela”.
Esse tipo de pronome apenas pode ocupar a posição S (de sujeito).
Outra
característica importante para identificar o objeto direto é que o sintagma
nominal que o representa é autônomo (e não interno). Além disso, o pronome
oblíquo que pode substituí-lo deve concordar em gênero/número com o núcleo do
objeto.
Outro
método sugerido pela autora para confirmar se o termo analisado é objeto direto
é o de transformar a oração em voz passiva. Assim, veremos que o objeto é um
“sujeito disfarçado”.
(9)
O povo perdeu a esperança./ A esperança foi perdida pelo povo.
No
exemplo (9), ao passarmos a oração para a voz passiva, o objeto direto (na voz
ativa) torna-se sujeito da oração (na voz passiva). Por isso, dizemos que o
objeto é um “sujeito disfarçado”.
Quanto ao
Objeto Indireto (OI), este é representado por um sintagma
preposicionado (o que pode confundi-lo com o adjunto adverbial) e é obrigatório
na oração. Pode ser também substituído por um pronome oblíquo – lhe(s) –
principalmente quando regido por preposição “a”. As preposições mais comuns
como introdutórias desse tipo de sintagma são “em, a, para, de, com, por”.
Como pode
ser confundido como adjunto adverbial, ressaltamos que este, apesar de
ser também representado por um sintagma preposicionado, não é obrigatório na
oração, mas acessório, ao passo que o OI é obrigatório.
(10)
Sugeri ao menino um banho.
(11)
Sairemos ao amanhecer.
Em (10) o
sintagma preposicionado “ao menino” é complemento obrigatório do verbo e,
portanto, objeto indireto. Já no exemplo (11), o sintagma “ao amanhecer”,
embora seja preposicionado, não é obrigatório, pois o verbo já tem 100% de carga
semântica, por isso tem a função de adjunto adverbial, uma vez que se trata de
uma circunstância de tempo que modifica o verbo.
O Predicativo
do Sujeito (PS) enquanto complemento obrigatório, articula-se a um
verbo de ligação. Todavia, esse tipo de complemento pode ocorrer com verbos que
não sejam de ligação, como um complemento acidental na oração.
(12)
Os meninos pareciam agitados.
(13)
Os meninos chegaram agitados.
Na oração
do exemplo (12), o sintagma que corresponde ao predicativo do sujeito,
“agitados” (de natureza adjetiva), é obrigatório, tendo em vista o verbo
“pareciam” ser de ligação. Já em (13), o verbo “chegaram” é intransitivo, o que
torna o predicativo acidental, circunstancial e não obrigatório.
As
gramáticas tradicionais, inclusive, classificam esse tipo de predicado (que
apresenta verbo intransitivo/transitivo e predicativo do sujeito) como
predicado verbo-nominal, pelo fato de apresentar um verbo significativo, que é
núcleo do predicado verbal, e um outro sintagma que corresponderia ao núcleo do
predicado nominal (segundo o ponto de vista da gramática tradicional).
Não
vamos, entretanto, ater-nos a essa classificação do predicado. O importante é
entendermos a articulação dos verbos que se encontram no interior dele.
Retomando
o predicativo do sujeito, verificamos que o sintagma que corresponde a
ele também é autônomo (e não interno) e por ser de natureza adjetiva,
normalmente é representado por um sintagma adjetival, o que não impede que seja
representado por outro tipo de sintagma (nominal, por exemplo), mas que tenha
característica adjetiva.
(14)
A festa foi horrível.
(15)
A festa foi um fracasso.
Em (14),
o sintagma que representa o predicativo do sujeito – “horrível” – é adjetival.
No entanto, em (15), o sintagma “um fracasso” é nominal, mas equivale a um
adjetivo em relação ao sujeito “A festa”.
Assim
como predicativo do sujeito, pode haver Predicativo do Objeto (PO)
na oração. Este tem as mesmas características do predicativo do sujeito,
com a diferença de articular-se ao objeto e não ao sujeito.
Os
verbos que apresentam esse tipo de predicação são denominados “transobjetivos”
por Sautchuk (2004). São eles: eleger, encontrar, julgar, nomear, considerar,
proclamar, achar.
(16)
Considero esse garoto um chato.
Veja que
no exemplo (16), o sintagma “um chato” é um sintagma autônomo, de natureza
adjetiva, mas se refere ao objeto direto “esse garoto” e não ao sujeito da
oração, que está oculto (“eu”). Portanto, esse sintagma representa o
predicativo do objeto e não o predicativo do sujeito.
Agente da passiva; Aposto; Vocativo; Adjunto e Complemento
nominais
A
partir da classificação dos sintagmas em autônomos ou internos, passamos a
verificar as funções sintáticas (algumas já apresentadas) desses sintagmas na oração.
Como
já foi visto, os sintagmas autônomos são os que podem ser deslocados no eixo
sintagmático da oração, portanto, podemos, a grosso modo, dizer que eles “têm
vida própria”. É o que acontece com sintagmas que têm a função de sujeito, de
objeto (direto ou indireto), de predicativo (do sujeito ou do objeto), de
agente da passiva, de adjunto adverbial, de aposto e de vocativo.
Quanto
aos sintagmas internos, estes se encontram subordinados
a outros sintagmas, visto que se encontram dentro deles e, por isso, não
podem ser deslocados na oração. É o caso do adjunto adnominal e do complemento
nominal.
Dentre
os autônomos, ainda não tratamos de alguns que serão apresentados a seguir,
como o agente da passiva, o aposto e o vocativo. Os
demais se encontram já descritos anteriormente.
Quando
a oração encontra-se na voz passiva, há um novo constituinte dessa oração, que
se denomina agente da passiva. Vejamos o exemplo que segue.
(1)
O espetáculo foi apresentado pelo locutor.
No
exemplo, temos como sujeito “o espetáculo”. Todavia, essa oração encontra-se na
voz passiva analítica, em que a estrutura é: sujeito + verbo auxiliar + verbo
principal na forma nominal particípio + agente da passiva.
Portanto,
o sintagma “pelo locutor” tem a função de agente da passiva. As características
desse sintagma são: sintagma preposicionado, introduzido pela preposição por
(pelo = per < por + o), autônomo.
Vejamos,
então, as funções de aposto e vocativo dos sintagmas autônomos, as quais ainda
não foram tratadas. Segundo a gramática tradicional, esses termos são
acessórios na oração.
O aposto
é representado, geralmente, por um sintagma de natureza substantiva e ele
tem a função de explicar, resumir ou desenvolver outro termo sintático já
existente na oração. Muitas vezes ele é confundido com o sujeito ou com o
predicativo do sujeito. Vejamos nos exemplos como ele pode apresentar-se.
(2)
Brasília, a capital do Brasil, é uma cidade plana.
(3) Crianças, jovens, adultos, todos, pareciam muito
irritados.
No
exemplo (2), o sintagma que representa o aposto é “a capital do Brasil”. Nessa
oração, o sujeito é “Brasília”, portanto o aposto está retomando o sujeito,
seria dispensável, daí a sua característica de termo acessório. O sintagma tem
como núcleo “capital”, portanto é de base morfológica substantiva e é autônomo,
sendo destacado, inclusive, pela pontuação.
Quanto
ao exemplo (3), neste o termo “todos” resume todos os outros que representam o
sujeito “crianças, jovens, adultos”. Ele seria também dispensável na oração.
Assim como no exemplo anterior, é um sintagma de natureza substantiva, autônomo
e um complemento não obrigatório na oração.
A
natureza substantiva do sintagma que representa o aposto é uma das
características que o diferencia do predicativo do sujeito, cujo sintagma é de
natureza adjetiva.
Outro termo representado por sintagma autônomo, porém não
necessário em uma oração, é o vocativo. Esse termo tem por função apenas
invocar, chamar a atenção do interlocutor. O sintagma que o representa é de
natureza substantiva e, assim como o aposto, é destacado pela pontuação,
tornando-o isolado na oração; por isso muitas vezes os dois termos são
confundidos em sua classificação. Vejamos um exemplo.
(4)
Meu filho, seja forte nessa hora.
O
sujeito no exemplo (4) encontra-se oculto e pode ser identificado como “você”.
Então, o sintagma “meu filho” representa a forma utilizada para chamar a
atenção do interlocutor. Sendo assim, trata-se do vocativo da oração, que seria
desnecessário na sua estrutura.
Tendo
tratado dos sintagmas autônomos, resta-nos tratar dos sintagmas internos que
ainda não foram descritos, ou seja, do adjunto adnominal e do complemento
nominal.
Assim
como o aposto e o vocativo, o adjunto adnominal é acessório, isto é,
embora seja um sintagma interno (está subordinado a outro sintagma), ele não é
um complemento obrigatório na oração.
Além
disso, outra característica desse termo é que, por ser um sintagma interno,
está sempre preso a um núcleo substantivo. Portanto, uma oração pode apresentar
tantos adjuntos adnominais quantos forem os núcleos substantivos.
Do
ponto de vista morfológico, os adjuntos adnominais são representados por
determinantes ou modificadores do substantivo. Vejamos exemplos.
(5)
As duas meninas de azul oferecerem uma rosa à mulher de preto.
Nesse
exemplo (5), vamos, primeiramente, isolar os sintagmas autônomos que tenham
como núcleo substantivos. São eles:
(a)
As duas meninas de azul
(b)
uma rosa
(c)
à mulher de preto
Em
(a) o núcleo é “meninas”, portanto, “as”, “duas” e “de azul” são adjuntos
adnominais, pois o primeiro termo determina o gênero e o número do substantivo,
enquanto o segundo quantifica-o e o terceiro modifica-o.
No
sintagma (b), o núcleo é o substantivo “rosa”, cujo gênero e número são
determinados por “uma”, que representa o adjunto adnominal.
E no
sintagma (c), para o núcleo “mulher”, temos como adjuntos adnominais “à”
(contração da preposição a (=para) + artigo a) - lembrando que a
preposição é apenas um relator, não tem função sintática – e o sintagma “de
preto”, que tem a função de modificador do substantivo.
O complemento
nominal, embora seja também um sintagma interno, diferencia-se do adjunto
adnominal por ser um complemento obrigatório, semelhante aos complementos
verbais – objeto direto e objeto indireto.
Esse
termo é sempre representado por um sintagma preposicionado (interno) exigido
para complementar o sentido de algum termo da oração que seja representado por
um substantivo, adjetivo ou advérbio, regidos de preposição.
Quando
ele complementa um substantivo, pode ser confundido como o adjunto adnominal.
Por isso, nesse caso, o valor semântico pode ser mais decisivo para a
classificação de um ou outro. Entretanto, uma característica acentuada é o
complemento nominal ser uma nominalização de um verbo transitivo, o que,
todavia, não assegura a sua classificação em casos polêmicos.
Vejamos
alguns exemplos.
(6)
O retorno dos amigos é sempre uma alegria.
(7)
Você foi a salvação de todos.
(8)
A saída do show foi tumultuada.
(9)
Vamos ouvir a execução da sentença.
Nos
exemplos anteriores, podemos transformar os nomes em verbos: em (6), temos “os
amigos retornaram”; em (7), “todos se salvaram”; em (8), “saíram do show”; em
(9), “a sentença executou-se (ou foi executada)”. Então, em cada exemplo, respectivamente,
os complementos nominais são: “dos amigos”, “de todos”, “do show” e “da
sentença”.
PERÍODO
COMPOSTO POR COORDENAÇÃO E POR SUBORDINAÇÃO
Lembrando
a hierarquia gramatical enquanto descrição da língua que, do menor para o maior
elemento, varia do morfema ao texto (morfema – palavra – sintagma –
oração/período – texto), veremos o período composto nesta unidade.
Como já
vimos também, cada verbo pressupõe a existência de uma oração. Portanto, a
partir de dois ou mais verbos, temos um período composto. Este pode ser
articulado por dois processos: a coordenação e a subordinação.
O
processo de coordenação diz respeito à organização em que as orações têm uma
equivalência, isto é, há um paralelismo e não uma hierarquia de informações
veiculadas pelas orações que compõem o período. Bechara (2001, p. 48)
classifica esse processo como parataxe:
Consiste
a parataxe na propriedade mediante a qual duas ou mais unidades de um mesmo
estrato funcional podem combinar-se nesse mesmo nível para constituir, no mesmo
estrato, uma nova unidade suscetível deste estrato. Portanto, o que caracteriza
a parataxe é a circunstância de que unidades combinadas são equivalentes do
ponto de vista gramatical.
Já no
processo de subordinação, há uma hierarquia na qual existe sobreposição de uma
oração em relação à outra, daí o conceito de oração subordinada em relação à
principal. É o que Bechara (2001,p. 47) denomina hipotaxe:
A hipotaxe (...) consiste na possibilidade de uma unidade correspondente
a um estrato superior poder funcionar num estrato inferior, ou em estratos
inferiores. É o caso de uma oração passar a funcionar como ‘membro’ de outra
oração, particularidade muito conhecida em gramática.
Ressaltamos,
ainda, que os limites do período são estabelecidos por pontuações finais (., !,
?, ...). Assim, podemos verificar, primeiramente, o número de orações e de
períodos no exemplo seguinte.
(1) Havia
harmonia no ambiente. Os quadros estavam bem colocados, a mesa foi bem arrumada
pela mulher e um perfume agradável dominava o ambiente.
Podemos dizer que há dois períodos no parágrafo e este é composto por
quatro orações ao todo, sendo uma no primeiro período e três no segundo. Os
períodos encontram-se delimitados pelos pontos finais, enquanto as orações
podem ser localizadas pelos verbos “havia”, “estavam”, “foi” e “dominava”. Esse
é o método mais simples para se identificar períodos e orações.
Quanto
aos processos de coordenação (parataxe) ou subordinação (hipotaxe), em um texto
podemos encontrá-los mistos na organização dos parágrafos. Por isso, o que
interessa é compreender como esses mecanismos funcionam; além de saber
identificá-los para a descrição linguística do texto.
Vejamos
um exemplo:
Quando eu
entrei no quarto/, abri a gaveta/ e descobri/ que o meu anel sumiu.
Nesse
período, que já se encontra segmentado pelas barras, vamos verificar a relação
sintática entre as orações. Para efeito de descrição, chamemos de (a) a
primeira, de (b) a segunda, (c) a terceira e (d) a quarta oração.
Entre as
orações (a) e (b) há uma relação de subordinação, em que a oração (b) é
principal em relação à (a) e esta equivale a uma circunstância de tempo, e
então se classifica como subordinada adverbial. A oração (c) é coordenada em
relação à (b), introduzida pela conjunção aditiva “e”, daí sua classificação em
oração coordenada sindética (aditiva). Já a oração (d) corresponde a um
sintagma que complementa a oração anterior (c), e equivale ao objeto direto da
oração anterior, portanto é uma oração subordinada substantiva.
Isso
posto, passaremos a tratar separadamente de cada tipo de processo de
organização sintática – coordenação e subordinação – para efeitos didáticos de
compreensão, lembrando que em um texto esses mecanismos diversificam-se,
havendo períodos, parágrafos em que ambos se encontram.
Período composto por coordenação
No
período composto por coordenação, há uma independência entre as orações pelo
fato delas apresentarem-se completas, isto é, terem todos os termos sintáticos
previstos na relação predicativa (ao contrário das orações complexas ou período
composto por subordinação).
Todavia,
embora não aparente, a coordenação é um processo mais complexo, tendo em vista
que muitas vezes envolve fatores semânticos e cognitivos, pois se analisarmos,
por exemplo, dois enunciados semelhantes, como:
(2)
Estudei bastante e fui aprovada.
(3)
Estudei bastante e fui reprovada.
temos
dois exemplos que apresentam a mesma estrutura sintática. São duas orações,
havendo na segunda um conector “e” como ligação entre elas. No entanto,
observando-as semanticamente, no exemplo (2) a segunda oração tem um valor
positivo em relação à primeira, ao passo que no exemplo (3) a segunda tem valor
negativo em relação à primeira.
Para
Bechara (2001), entretanto, essa conclusão não está no uso do conector “e”,
que, do ponto de vista sintático, tem por função adicionar uma informação à
outra. É esse o papel que exerce em ambos exemplos, portanto, podemos entender
que essa conjunção (=conector) é aditiva.
A
gramática tradicional denomina “sindéticas” as orações que têm
conjunção, pois esta recebe também o nome de síndeton, daí a
denominação. E são essas conjunções coordenativas que designam a classificação
para as orações.
No
próximo módulo veremos a classificação dessas orações.
Período composto por subordinação
O período
composto por subordinação é também visto como uma oração e/ou sintagma
complexo, como define Perini (2005, p.148):
Chamaremos
sintagma complexo um sintagma que encerra, como um de seus constituintes
imediatos ou mediatos, uma oração.
Se
retomarmos o conceito de oração e seus constituintes que vimos no estudo do
período simples, verificaremos que em um período desse tipo as orações que
correspondem às subordinadas exercem funções dos sintagmas representados por
substantivos, adjetivos e advérbios.
Nesse
sentido, afirma Perini (2005, p.149):
Em
princípio, um sintagma complexo pode ocupar as mesmas funções que um sintagma
simples da mesma classe. (...) Assim, um SN simples pode ser sujeito, objeto
direto etc., e um SN complexo pode desempenhar exatamente as mesmas funções.
Assim, a
partir dessa noção de sintagma, podemos relacionar os grupos de orações
subordinadas às funções dos sintagmas que representam. As orações substantivas
têm funções exercidas pelo sintagma nominal, as adjetivas pelo sintagma
adjetival e as adverbiais pelo sintagma adverbial.
É com
base nesse critério que veremos a classificação das orações subordinadas em
cada grupo no próximo módulo.
ORAÇÕES COORDENADAS E
ORAÇÕES SUBORDINADAS
A
gramática tradicional denomina “sindéticas” as orações que têm
conjunção, pois esta recebe também o nome de síndeton, daí a
denominação. E são essas conjunções coordenativas que designam a classificação
para as orações.
De acordo
com Bechara (2001), são três as relações estabelecidas pelas conjunções
coordenativas (ou conectores):
1.
Aditiva: adiciona orações.
2.
Ex.:
Entrou e sentou-se no sofá.
Em
orações negativas, a conjunção “e” pode ser substituída por “nem”:
João não
comeu nem bebeu em casa.
2.
Adversativa: contrapõe
o conteúdo de uma oração em relação à outra.
Ex.:
Procurei o meu brinco, mas não o encontrei.
As
conjunções adversativas mais comuns são “mas”, “porém”, “senão” (após conteúdo
negativo).
3.
Alternativa: contrapõe o conteúdo de uma
oração ao de outra, com a ideia de exclusão de um em relação ao outro, ou seja,
de escolha, de alternativa.
Ex.:
Entra ou sai da porta.
A
gramática tradicional relaciona, ainda, orações coordenadas que apresentam
conjunções conclusivas, explicativas e causais.
Para
Bechara, entretanto, esses valores estabelecidos por essas conjunções têm
semelhança com as orações subordinadas e encontram-se no nível do sentido do
texto, ultrapassando os limites de fronteira da oração.
Assim
como há orações coordenadas introduzidas por conjunções, há períodos em que
elas se justapõem, ou seja, em que elas encontram-se ligadas sem marcas
linguísticas, apenas distintas pela pontuação. É o que a gramática tradicional
denomina oração coordenada assindética (= sem conjunção). Esse
procedimento de enlace das orações pode ser chamado de justaposição.
Exemplificando:
Dirigiu-se
à porta, abriu-a, saiu. Ninguém na rua. Voltou para casa.
As
orações substantivas têm funções exercidas pelo sintagma nominal,
as adjetivas pelo sintagma adjetival e as adverbiais pelo sintagma
adverbial.
É
com base nesse critério que veremos a classificação das orações subordinadas em
cada grupo.
Orações
subordinadas substantivas
Se a
oração substantiva equivale a um sintagma nominal, ela exercerá a função que
este teria na oração complexa (ou período composto por subordinação) em que se
encontra.
Por
exemplo:
(4)
Esperamos que você venha.
Ao
dividirmos o período, temos a oração principal “Esperamos” e a subordinada
“(que) você venha”.
Se
substituíssemos a oração por um sintagma nominal, poderíamos obter “Esperamos
sua vinda”. Tornando-se um período simples, neste poderíamos identificar seus
elementos: sujeito oculto (nós); verbo transitivo direto - “esperamos”;
objeto direto - “sua vinda”.
A fim de
facilitar a classificação das orações subordinadas substantivas, apresentamos
um método prático, proposto por alguns estudiosos da gramática.
Trata-se
de substituir a oração subordinada pelo pronome “isso” e, a partir da
substituição, observar que função assumiria em um período simples.
Vejamos:
(5)
Convém que você venha.
Substituindo
a oração subordinada:
Convém
isso.
Se
colocarmos a oração transformada na ordem direta (SVC), obtemos:
Isso
convém.
Assim,
observamos que a oração equivale a um sintagma que tem a função de sujeito da
oração. Portanto, essa oração deve ser classificada como subordinada
substantiva subjetiva.
É
importante ressaltar que as orações substantivas são introduzidas normalmente
pela conjunção integrante “que”. Quando indica uma incerteza, um
questionamento, o que pode ser substituído por “se”:
Não sei
se ela virá.
ORAÇÕES SUBORD. ADJETIVAS E ORAÇÕES SUBORD. ADVERBIAIS
Orações
subordinadas adjetivas
Seguindo
o critério apresentado inicialmente, de relacionar as orações subordinadas às
funções exercidas pelos sintagmas que as representam, segundo propõe Sautchuk
(2004), uma oração adjetiva tem a função que um sintagma adjetival teria em um
período simples, as quais são de predicativo ou de adjunto adnominal.
Para
exemplificarmos, vamos iniciar por um período simples e depois faremos sua
correspondência a um período composto.
(6) O pedestre, muito tranquilo, atravessou a rua
tumultuada.
No
exemplo (6), temos dois sintagmas de natureza adjetiva. O primeiro é um
sintagma autônomo, “muito tranquilo” e o segundo é um sintagma adjetival
interno ao sintagma nominal “a rua tumultuada”.
Observemos que uma forma de diferenciar o predicativo do
adjunto adnominal é essa característica do sintagma ser autônomo ou interno.
Ambos sintagmas adjetivais têm a função de modificadores do substantivo, mas um
constitui um sintagma independente e o outro encontra-se dentro de outro
sintagma.
Essa
característica diferenciadora assegura-nos a classificação de predicativo do
sujeito para o sintagma autônomo “muito tranquilo” e de adjunto adnominal para
“tumultuada” no sintagma “a rua tumultuada”.
Esse
mesmo período poderia ser transformado em um período composto:
O
pedestre, que estava tranquilo, atravessou a rua que era tumultuada.
Apesar
da nova construção do período, manteve-se seu sentido e a classificação para as
orações é de subordinada adjetiva explicativa para a primeira e de subordinada
adjetiva restritiva para a segunda.
A
primeira oração, adjetiva explicativa, assim como o predicativo do sujeito,
corresponde a um sintagma autônomo, de natureza adjetiva. Já a segunda,
adjetiva restritiva, corresponde a um sintagma adjetival interno.
Do
ponto de vista semântico, como afirma Sautchuk (2004, p.123):
Tanto
no período simples como no composto, o predicativo do sujeito e a oração
adjetiva explicativa indicam um estado ou uma característica acidental do
núcleo (...); o adjunto adnominal e a oração restritiva indicam uma característica
intrínseca ao núcleo.
Como o sintagma que corresponde ao predicativo é
independente, autônomo, da mesma forma a oração adjetiva explicativa destaca-se
na oração pelo seu isolamento e isso é marcado pela pontuação, como o uso de
vírgulas, por exemplo.
Já a oração adjetiva restritiva, como o sintagma
equivalente (adjunto adnominal), não se apresenta isolada, ao contrário, está
diretamente ligada a um núcleo substantivo e, por isso, não se coloca entre
vírgulas (ou outro tipo de pontuação que a isole).
Alguns
gramáticos até denominam as orações adjetivas de relativas, pelo
fato delas serem introduzidas por um pronome relativo (que, quem, o(a) qual,
os(as) quais, cujo(a), cujos(as), onde).
O
pronome relativo, por sua característica anafórica, ou seja, de retomada de um
termo antecedente, exerce sempre uma função sintática na oração que introduz.
(7)
Encontrei o vídeo que procurava.
No
exemplo (7), “que” é o pronome relativo que introduz a oração adjetiva
restritiva “que procurava”. Esse pronome pode, inclusive, ser substituído por
“o qual”. Além disso, está retomando “o vídeo”, sintagma da oração anterior que
tem a função de objeto direto. Então, se substituíssemos o pronome relativo
pelo sintagma anterior, como se fosse um período simples, a oração assim
ficaria:
Procurava
o vídeo.
Nessa
oração transformada, “o vídeo” complementa o verbo “procurava”, para o qual o
sujeito está oculto (eu). Portanto, “que” na oração tem a função de
objeto direto.
Orações
subordinadas adverbiais
As orações
adverbiais, assim como os sintagmas adverbiais, têm a função de modificar o
verbo, indicando-lhe uma circunstância. Dessa forma, essas orações
classificam-se de acordo com a circunstância que indicarem em relação à oração
principal.
Por
exemplo, se tivéssemos a seguinte oração:
O
cão dorme tranquilo.
Poderíamos
acrescentar-lhe circunstâncias em forma de orações:
(8)
Enquanto varro a sala, o cão dorme tranquilo.
(9)
O cão dorme tranquilo onde há uma cama.
(10)
O cão dorme tranquilo porque está cansado.
(11)
Apesar de ser dia, o cão dorme tranquilo.
Observando
cada exemplo, vejamos as circunstâncias que cada oração acrescentada (que forma
com a principal um período composto) indica para classificá-las.
No
exemplo (8), a oração “enquanto varro a sala” indica uma circunstância de tempo
em relação à principal, por isso a sua classificação é de subordinada
adverbial temporal.
Da
mesma forma, no exemplo (9), a oração “onde há uma cama” indica o local da ação
da oração principal, daí sua classificação em subordinada adverbial locativa.
Já
no exemplo (10), a circunstância indicada pela oração subordinada é de causa em
relação à informação da oração principal, por isso trata-se de uma adverbial
causal.
Finalmente,
no exemplo (11) há ideia de concessão (ou contradição na lógica) introduzida
pela oração. Esta se classifica como oração subordinada adverbial concessiva.
Assim,
é a ideia circunstancial que determinará a classificação desse tipo de oração,
como pudemos observar em cada exemplo. Essa ideia, se estivesse expressa em
período simples, seria estabelecida pela relação sintática de um adjunto
adverbial na oração. É por esse motivo que as orações desse grupo são
denominadas adverbiais.
CONCLUSÃO
O estudo da morfossintaxe
nos auxilia na produção textual, permitindo-nos redigir textos muito mais
elaborados, dentro das regras da gramática normativa. Além disso, seu bom
entendimento nos possibilita uma melhor análise, melhor leitura e entendimento
do texto, sendo esses benefícios estendidos nas práticas pedagógicas dentro de
sala de aula do ensino fundamental e médio.
Devemos compreender que tal estudo não considera os
aspectos sociais da língua, ele fixa-se somente nos termos gramaticais,
morfológicos e sintáticos, sendo a morfologia, o estudo da estrutura, da
formação e da classificação das palavras, analisando-as isoladamente e não
dentro da sua participação na frase ou período. Em contrapartida, a sintaxe é a
parte da gramática que estuda a disposição das palavras na frase e a das frases
no discurso, bem como a relação lógica das frases entre si. Sendo assim, a
morfossintaxe é o estudo das palavras nos aspectos morfológico e sintático,
simultaneamente.
Para o bom entendimento da
morfossintaxe, é essencial compreendermos os termos que compõem tanto a
morfologia quanto a sintaxe. Um mesmo termo, uma mesma palavra, um mesmo
vocábulo será analisado morfológica e sintaticamente.
Estamos convencidos de que o estudo e
aplicação da Morfossintaxe em sala de aula facilita a compreensão dos alunos no
que se refere ao fato, ao todo, da língua portuguesa. Por meio desta disciplina
aprendemos a enxergar a estrutura do nosso idioma com um uma facilidade ímpar e
achamos oportuno que essa abordagem morfossintática seja aplica em nossas
futuras aulas de gramática.
Integrantes:
- B40GDG2 - DOUGLAS ALVES DELLAMONICA (líder)
- B4401A1 - DIANE DOS REIS
- B34HAF6 - ANTONIO CORREIA DE AMORIM
- B385BF5 - ANA LAURA FREITAS RANGEL
- B558CE6 - EVELYN REGINA DA SILVA FALCAO
- B5380D9 - EZEQUIEL MESSIAS DUARTE MUNIZ
ótimo trabalho, conteúdo organizado e bem resumido, parabéns para o grupo
ResponderExcluirGostei da maneira como foi elaborado. Parabéns! Ótimo trabalho.
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